terça-feira, dezembro 30, 2008

A visita de Erenildo "o Idiota"

Erenildo, vocês conhecem? É o irmão gêmeo do Eremildo. Aquele personagem idiota famoso, criado e que vive fazendo observações interessantes na coluna do jornalista Elio Gaspari, no Jornal O Globo, aos domingos. Mas a exemplo do seu irmão mais famoso, Erenildo, também é um idiota. Só que diferente do irmão que só vive no Rio de Janeiro, Erenildo semana passada esteve em Campos. Veio conhecer a “terra das delícias”, e ficou encantado e abismado com o que viu.
Ao chegar à Campos, de van convencional, descobriu que aonde ele desembarca não há ponto de táxi, e que ele mesmo tinha que se virar e levar sua bagagem até o ponto de táxi cuja maioria não possui ar condicionado, apenas ar ventilado, e olha lá.
Ficou sabendo por tabela, que o preço cobrado da Nova Rodoviária, até o centro de Campos custa os olhos da cara, mas um lotação cobra bem menos e fazia o mesmo percurso, pelo preço da passagem de ônibus. Coisas de quem chega numa cidade e não pergunta como fazer para chegar mais barato até onde quer.
É que Erenildo quer viver igual ao seu irmão, famoso, mas não tem tanto dinheiro assim, e como anda com os bolsos meio vazios, procura se virar da melhor maneira para chegar ao seu destino.
Mas enfim ele chega ao centro da cidade e se instala em um hotel nas proximidades da Praça do Santíssimo Salvador.
E chegou num dia atípico. Ficou sabendo na entrada do hotel, que Campos dos Goytacazes, é a primeira cidade da América a ter luz elétrica, inaugurada pelo Princípe Regente, D. Pedro II, que adorava ciências e uma novidade. Ao entrar no elevador e dizer para o ascensorista que iria para o 13º andar, eis que o elevador pára no meio do caminho, e as luzes se apagam. Pergunta então ao ascensorista o que está acontecendo. E fica sabendo que apesar de Campos ser a primeira cidade a ter luz elétrica, basta vir um ventinho mais forte e a luz se apaga com medo. Coisas de Campos! Foi o que disse o ascensorista.
E na meia hora em que a luz se achou no direito de brincar, indo e voltando sem se definir, Erenildo resolveu descobrir mais coisas sobre Campos. Ficou sabendo que alguns bairros do município também possuem outros problemas de iluminação, que há uma empresa municipal que cuida disso, mas como o seu presidente é vesgo, é provável que ele mande consertar o que está direito, e deixe de lado o que está com defeito. Coisas de Campos! Tsc, tsc...
E assim o papo foi indo. O ascensorista sabendo que ele era um jornalista famoso, resolveu saber do Erenildo o que estava fazendo em Campos, e soube que ele estava fazendo umas averiguações e conhecer a cidade. O ascensorista então falou que ele poderia conhecer a Rua dos Homens em Pé, onde os homens faziam negócios no meio da rua, e em outros tempos, até mesmo escravos e jogadores de futebol eram negociados, só para dar um exemplo.
Por falar em escravos, Erenildo ficou sabendo que no Boulevard, confluência da Rua dos Homens em Pé, com Rua 13 de Maio, há um pelourinho. Marca de um passado, que os afro-descendentes desejam apagar da memória, mas que homens públicos desejam marcar para sempre como ponto turistíco da cidade. Erenildo ficou sabendo que até o pelourinho, já foi alvo de vandalos que afixaram cartazes nos quatro lados do mesmo.
Ao voltar a energia, Erenildo conseguiu chegar ao apartamento 1313, e ao abrir as janelas pode ver lá do alto, a referida Praça do Santíssimo Salvador, um espelho de cimento, ou torradeira natural. O nosso personagem ficou sabendo que outrora, na praça havia muitas árvores, e um pinheiro que só de altura estava na metade do edifício Ninho das Águias, mas que um prefeito desalmado, que mandava beijos no coração da população, resolveu cortar todas as árvores, cimentar tudo e colocar ali, as pedras de mármore lisas, que do alto de onde ele estava mais pareciam um espelho, como uma referência a uma frase de Getúlio Vargas, que ao visitar Campos, disse que essa cidade “era o espelho do Brasil”. Erenildo então ficou admirado com o conhecimento do ascensorista, e entendeu que realmente a cidade tinha de ter algo do gênero, mas só não entendeu por quê o tal prefeito resolveu embargar por várias vezes as obras de uma ponte localizada nas imediações da ponte Barcelos Martins, que desemboca na Beira-Valão, por onde ele passou, alegando que a obra iria matar as árvores existentes ali. Erenildo então compreendeu que eram “coisas de Campos”. “Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”, foi o que Erenildo lembrou, em alusão a este assunto.
Erenildo então achou que já estava na hora de colocar os pingos nos “is”, e disse que a população deveria se revoltar com aquele ato do prefeito, e ficou abismado quando soube que o povo de Campos, não vai as ruas pedir para cassar o prefeito, porque além dos vereadores estarem todos do lado de quem manda, nas eleições, os cabos eleitorais entregam santinhos com notas de R$ 50,00 (cinquenta reais). Erenildo então ficou maravilhado, e acha que irá transferir o seu título para votar em Campos, porque nunca viu uma nota de R$ 50, quanto mais de R$ 100, em santinho nenhum. Mas ao mesmo tempo, quis saber por quê a Justiça não pega os cabos eleitorais e seus candidatos? O ascensorista contou que é porque o tal prefeito que beija o coração de seu povo, aquiesceu e deu de presente para a Justiça, um novo Fórum, localizado na Av. XV de Novembro. Aí o nosso personagem entendeu o motivo da história, mas ficou triste ao constatar que para construir o novo Fórum, foi necessário desabrigar e destruir algumas casas, e numa dessas casas residia uma idosa.
Erenildo ficou com pena da idosa, claro! E quis saber porque o prefeito fez isso, e o que tinha essa casa de tão especial? Ficou sabendo que nessa casa, nasceu a primeira emissora de rádio do antigo Estado do Rio de Janeiro, a Rádio Cultura de Campos. E ficou mais abismado com o fato de saber que nem mesmo a imprensa foi capaz de fazer algo, nem uma manifestaçãozinha pra contar história. Erenildo quis saber e, soube que a imprensa de Campos estava toda comprada por quem detinha o poder. Primeiro porque o jornal mais velho da cidade e o terceiro do país, é o órgão oficial do município, segundo porque os outros dois jornais principais vivem as turras numa briga de cão e gato, cada um puxando o saco ou a sardinha para o lado político de seus interesses. Coisas de Campos!
Mas Erenildo também ficou sabendo que os piscinões ou cisternões construídos na época do prefeito “que mata árvores”, já não funcionam mais, e quando chove a cidade fica completamente alagada. Erenildo ficou sabendo que numa dessas chuvas torrenciais, a cidade viveu o seu caos, e quem saía do trabalho às 18, só chegou em casa depois das 23 horas, em locais onde a distância não passava de 30 minutos entre a residência e o trabalho. Erenildo ficou estupefato ao saber disso! E disse: “coisas de Campos”!
Depois de saber tudo isso, e percorrer a cidade, o nosso personagem foi embora de Campos, sem ao menos provar o sabor do chuvisco, doce típico feito pelas doceiras de Campos, e que já deu fama a cidade, e é sempre alvo de matérias jornalísticas. Acho até que foi bom Erenildo não ter provado o chuvisco, porque se soubesse que a única cooperativa de doceiras do país fechou suas portas porque o município não lhes deu respaldo, teria sentido o amargo sabor de uma cidade que não dá valor ao que possui como cultura. Se bem que Erenildo já sabia de antemão, que os artistas de fora tinham mais regalias do que os de casa, e recebiam polpudos cachês, com sabor de superfaturamento, enquanto os artista locais, eram vistos de pires na mão, mendigando o seu faturamento na porta do palácio da Cultura, e havia alguns artistas que passavam meses e meses sem ver a cor do dinheiro do show que haviam apresentado, enquanto os de fora, recebiam durante o espetáculo que faziam, e iam embora felizes da vida, por terem feito um show em Campos dos Goytacazes, “Terra das delícias, e dos ´oito` pecados capitais”. Porque a cidade se acha tão importante, que já criou mais um pecado capital, só para ficar diferente das outras cidades. “Coisas de Campos!”.