quarta-feira, maio 17, 2006

Um texto serendipitoso


Exercício de faculdade é dose!
Depois de ler dois livros de Gay Talese, fiz o texto abaixo, que por sinal foi elogiadíssimo pelo professor Gerson Dudus, daí...

A arte de narrar um dia-a-dia

A ARTE DE NARRAR UM DIA-A-DIA

Paulo de Almeida Ourives

Todos os dias acordo às quatro horas da manhã e enquanto, fico uma hora enrolando o tempo na cama, há muitas pessoas lá fora, já trabalhando, como por exemplo os motoristas de táxi, que trabalharam à noite, e já estão esperando a hora de encerrar o seu expediente, para ir embora para casa dormir. Por outro lado, outros colegas de profissão, mas de ônibus, estão caminhando em direção as garagens das empresas de ônibus de Campos, prontos para iniciarem mais um dia.
Os padeiros já começaram o seu dia de trabalho, e aprontam a massa dos pães, que serão consumidos logo depois no café da manhã de milhares de pessoas. Não importa se com queijo, margarina ou manteiga, se na chapa, ou torrada, o certo que os pães entrarão logo depois no estômago de tantas pessoas famintas.
Enquanto os padeiros preparam a massa, outra massa de trabalhadores, sai à rua, os jornaleiros, em suas bicicletas de carga, motos e carros, eles se dirigem para as distribuidoras de jornais e revistas para buscar as últimas edições de revistas e jornais.
Todos os dias, às cinco horas da manhã, quando as padarias, já estão terminando de fazer a primeira fornada de pães do dia, algumas prostitutas e travestis que fazem ponto na Rua Tenente-Coronel Cardoso, esquina com a Rua dos Andradas, e, em outro ponto, na esquina das Ruas 21 de Abril, com Andradas, e na Aquidaban, com Rua do Ouvidor, estão encerrando os seus turnos de serviço, as suas noitadas.
Neste exato instante, quando começo a tomar meu banho, o locutor Chico da Rádio, começa a fazer o seu programa diário, na Campos Difusora.
Por volta de 5:30, todos os dias, quando o jornalista e radialista, Fernando Leite, entra no ar, pela Rádio Litoral FM, eu do outro lado da cidade, já estou começando a me vestir, as padarias estão começando a abrir as suas portas, muitos ônibus com motoristas e trocadores saem das garagens, para iniciar o seu dia de trabalho, e levar os boêmios para casa, ou levar quem já acordou para o trabalho.
Nesse horário, em algum ponto da cidade, muitas pessoas, já estão fazendo suas caminhadas em volta do Jardim São Benedito, ou pela ciclovia localizada na Avenida 28 de Março.
Todos os dias, quando saio de casa, por volta das 5:45, sempre encontro duas senhoras fazendo caminhada pela ciclovia, da Avenida Felipe Uébe. Nesse momento, muitos enfermos, nos hospitais da cidade, são acordados pelos enfermeiros, para tomar o remédio e verem a sua pressão arterial medida. Nesse momento, milhares de batidas do coração são ouvidas por todos os enfermeiros que trabalham na Santa Casa de Misericórdia, Hospital Dr. Beda, Pró-Clínicas, Beneficência Portuguesa, Hospital Ferreira Machado, Hospital de Guarus, e outros hospitais cuja memória não lembra, mas sabe que existem.
Todos os dias, quando já estou na ciclovia, um senhor aparentando pouco mais de cinqüenta anos, faz a sua caminhada, acompanhado de seu cãozinho cinza, da raça Poodle. Todos os dias, ele veste a mesma roupa, uma camiseta de algodão branca, em que se lê “1 ano”, de algum evento, uma bermuda jeans, meias brancas e tênis preto. Todos os dias, na mesma hora, no mesmo local.
Quando chego no ponto de ônibus, cinco minutos ou mais depois de ter saído de casa, sempre encontro um funcionário do Hipermercado Sendas, que as vezes tenho a impressão de que ele já trabalhou para a Guarda Municipal, até que chega a sua colega de empresa, que também me parece familiar.
Uma vez ou outra, converso com ele, que hoje, 26 de outubro, descobri sem querer que seu nome é Geraldo, porque sua colega pronunciou. Enquanto aguardamos os ônibus que nos levarão para os nossos locais de trabalho, vem passando um ônibus da Transmac, e que acaba chegando perto do ponto de ônibus, diminuindo a velocidade, e se não dou conta de prestar mais atenção, sou capaz de fazer sinal para ele.
Todos os dias, enquanto estamos no ponto, vem chegando uma senhora, acompanhada de sua filha. Hoje por acaso, cheguei um pouco antes, e pude ver o itinerário dela. Ela sai de alguma rua, duas ou três ruas depois da Sendas do Turf-Clube, atravessa a Avenida 28 de Março, para a calçada do mesmo lado do ponto em que estou, como se preparando para pegar um ônibus com destino ao centro, mas na verdade, ao chegar bem próximo de nós, possivelmente, a filha, atravessa a rua para o outro lado, e pega um ônibus que ainda não tive oportunidade de descobrir qual é, e vai em direção ao Jóckey, ou ao Farol. Depois que a filha embarca no ônibus, todos os dias, a sua mãe, ainda fica a olhar o ônibus indo embora, para somente, depois de cinco minutos, voltar para sua casa.
Todos os dias, os funcionários do Hiper Sendas, pegam um ônibus, que vem na frente daquele que me serve. E isso sempre acontece, depois que o sino da Igreja Católica Tradicionalista, localizada na Rua Riachuelo, dá as seis badaladas. Mas todos os dias, quando pego o ônibus, seja da Viação Brasil, ou Rangel, há dentro dele, pelo menos cinco funcionários da Transportadora Fadel, que já no início da manhã, por volta das 6 horas, já estão com bala na agulha, e começam a brincar uns com os outros dentro do ônibus, até as imediações do Jornal A Cidade, na Avenida Alberto Torres, depois da linha, da antiga Estação Ferroviária, que atualmente, é a sede do Colégio Anglo.
Todos os dias, quando eu entro dentro do ônibus, eu cumprimento o trocador, como uma forma de humanizar o dia-a-dia deles, que vivem apenas olhando as notas de um, dois, cinco e dez reais, ou dos vale-transportes, que depois de recolhidos vão para o cofre e a conta das empresas. Todos os dias, quando desço do ônibus, também agradeço pela viagem e dou um bom dia para o motorista, pedindo a Deus, que o proteja, e que ele possa levar o restante dos passageiros em paz.
Enfim, todos os dias, por volta das seis e quinze, ou seis e vinte, encontro um dos porteiros da empresa de Vigilância e Serviços Gerais da MAC, e os cumprimento com um bom-dia. Às vezes, eu consigo chegar na faculdade antes do primeiro locutor da Rádio Educativa, o Romualdil. Quando chego depois dele, todos os dias, acendo a luz do corredor do segundo andar, tomo um pouco de água gelada do bebedouro, aliás o único bebedouro da faculdade em que sai água geladérrima, abro a porta da Coordenação de Comunicação, passo pela porta interna da Coordenação, viro a direita, acendo o interruptor do corredor que dá acesso, a técnica da UniTV e Estúdio da mesma emissora, subo as escadas, verifico se a porta da Redação da rádio está aberta, mas como o Romualdil, nunca abre a porta, vou até o estúdio, o cumprimento, dou-lhe um bom-dia, torço para que ele tenha um ótimo dia de trabalho, pego as chaves, entro na sala da Redação, ligo os computadores, o ar condicionado, o rádio para ficar na escuta, e começo o meu dia de trabalho, exatamente pela internet, para ver o que aconteceu na noite anterior, e pela madrugada, antes de chegar a emissora. Depois disso, só em outro capítulo.

Das batidas do Jongo...


criei esse texto, porque senti dentro de mim, o pulsar das suas batidas, e tendo por base a história de quem viveu nas senzalas, resolvi escrever esse texto...
Bate Tambor! Bate! Chama Tua Gente!....

Bate Tambor!



BATE TAMBOR!

Paulo de Almeida Ourives

É noite, correntes se arrastam no chão frio das senzalas, trazendo de volta pés cansados.
Gemidos, dores e lágrimas escorrem de homens e mulheres mutilados em sua liberdade.
Mas, de repente, na calada da noite, uma milagre acontece, uma mão calejada e inchada da labuta no corte da cana bate com a palma da mão no couro esticado de um tambor. E assim, mesmo fatigados, os tambores começam a tocar.
Bate tambor, chora, chama sua gente!
Bate tambor, acorda quem está dormindo, morto de cansado por um dia exaustivo no canavial.
Bate tambor! Chora, chama e clama a tua gente que é hora de acordar, de levantar, encontrar forças para lutar.
Bate tambor! Bate com força!
Faz o teu couro gemer, ranger e ecoar a noite.
Mostra tua força tambor!
Mostra a garra e a força de seu povo!
Faça com que acordem, que se levantem da letargia.
Faça com que eles se ergam e dancem ao som de tuas batidas.
Invada o coração deles, faça os pulsar,
Bater mais forte, lembrando das noites de tua terra natal,
Onde a liberdade reinava,
E havia sorrisos nos rostos de sua gente.
Bate tambor!
Retumba e ecoa nas senzalas,
Faz seu povo delirar, e no ritmo frenético do jongo faz seu povo acordar.
Bate tambor!
Acorda tua gente!
Ensina a eles a viver sob a esperança,
O sonho da dignidade, o sonho da humanidade!
Bate tambor! Bate com força!
Mostra a raça do teu povo a dançar,
E ensina os ideais de liberdade.
Injeta neles a vontade de lutar,
guardar as energias para o dia que virá.
E um dia finalmente, chegará.
Em que tu tambor, baterá e chorará de alegria,
Pela liberdade de seu povo.
Agora bate tambor!
Bate, com vontade,
E viva a liberdade
De seu povo,
Cantador de jongo!
Agora bate tambor!
Bate, bate com força!
Bate para a eternidade!

Minha homenagem ao grande poeta



Soneto de Fidelidade

Vinicius de Morais

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa (me) dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

A Lenda das Três Árvores




A Lenda das Três Árvores
Havia, no alto de uma montanha, três árvores que tentavam imaginar o que seriam depois de grandes. Aos poucos, perceberam que estavam dominadas pelos sonhos.A primeira, olhando as estrelas, disse: "Eu quero ser o baú mais precioso do mundo, cheio de tesouros."
A segunda, olhando o riacho, suspirou: "Eu quero ser um navio grande para transportar reis e rainhas."
A terceira, olhou o vale e disse: "Quero ficar aqui, no alto da montanha e crescer tanto que as pessoas, ao olharem para mim, levantem os olhos e pensem em Deus.
"Muitos anos se passaram. Certo dia, três lenhadores cortaram as árvores que tanto desejavam serem transformadas naquilo que sonhavam (infelizmente, "lenhadores" não costumam ouvir e atender sonhos...).
Que pena!
A primeira árvore acabou sendo transformada em um cocho de animais coberto de feno.
A segunda virou um simples barco de pesca, carregando pessoas e peixes todos os dias.
A terceira foi cortada em grossas vigas, as quais foram colocadas de lado, num depósito. Desiludidas e tristes as três árvores perguntavam: "Por que isso?"
Então, numa bela noite cheia de luz e estrelas, uma jovem mulher colocou seu bebê recém-nascido naquele cocho de animais.
E, de repente, a primeira árvore percebeu que continha o maior tesouro do mundo.
Tempos depois, a segunda árvore estava transportando um homem que acabara de dormir no barco em que se transformara.
Quando uma tempestade quase afundou o barco, o homem levantou-se e disse: "Silêncio! Cala-te!".
E, vendo que imediatamente o lago se acalmara, ela entendeu que estava transportando o rei do céu e da terra.
Mais tarde, numa sexta-feira, a terceira árvore espantou-se quando suas vigas foram unidas em forma de uma cruz e um homem foi pregado nela.
Sentiu-se horrível e cruel...
Mas, no domingo seguinte, o mundo vibrou de alegria. Ela, então, percebeu que nela havia sido pregado o filho de Deus para a salvação da humanidade, e que, ao olhar para ela, as pessoas sempre se lembrariam do Salvador...

Cada dia que nasce...

é uma esperança que cresce em meu coração. Por isso, considero um milagre divino, poder assistir ao amanhecer de um novo dia...

O alvorecer de um novo dia



O alvorecer de um novo dia

Paulo de Almeida Ourives

É madrugada ainda, já não tenho sono, levanto-me e abro a janela, aqui do 15º andar, vejo uma boa parte da cidade e principalmente o horizonte, mais algum tempo e o céu irá ficará laranja com os primeiros raios de sol a nos mostrar que o dia será claro e de um calor escaldante.
Mesmo com estes raios a despontar no horizonte ainda vejo as estrelas no céu, no seu lado escuro entre a divisa do dia e da noite. Neste momento fico imaginando o que está acontecendo do outro lado do mundo. Em um país bem distante, já olhando para o seu horizonte e vendo o sol se pôr, e os últimos raios do sol a se perderem na escuridão da noite que adentra.
Lá embaixo vejo algumas pessoas caminhando, talvez voltando para suas casas depois de uma noite de trabalho ou, quem sabe de farra. O céu vai clareando e com ele vai aparecendo mais pessoas nas ruas, são os jornaleiros que acordam cedo para buscar os jornais e as notícias sobre o que aconteceu no dia de ontem. Atos políticos, visitas ilustres na cidade, abertura de programas de incentivo aos empresários, prisões de bandidos, assaltos, mortes, resumos econômicos da inflação, alta do dólar, é um atleta de um clube que se machuca e passa a ser um desfalque sério para a próxima partida, enfim, todos os dias, as mesmas notícias nos mesmos jornais, não há nada diferente, nem mesmo nas ruas, agora pela manhã escuto a sirene dos bombeiros em mais uma saída rotineira atrás de um algum acidente de carro em algum lugar na estrada ou em alguma rua da cidade. Vejo também um carro da PM voltando para o quartel depois de uma longa noite de ronda policial.
Assim é o início de todos os dias em Campos, e que não é nada diferente de outras cidades por este Brasil afora.
Já vejo pessoas em suas caminhadas matinais, tentando exercitar o corpo, retirar aquelas gordurinhas que o tempo e aquela fugidinha do regime incorporaram a estética corporal. E agora é preciso malhar bastante para tirar esse excesso de gordura e de peso antes que o médico volte a dar mais uma bronca.
Cada coisa que vejo de minha janela neste amanhecer de mais um dia, vou logo imaginando o que há por detrás de tantos fatos que acontecem ao mesmo tempo sem que tenhamos a menor idéia do que há por trás de tudo isso, e principalmente, da vida das pessoas, fico conjeturando tudo isso, e não me arrependo de nada do que faço, afinal de contas todas essas conjecturas estão dentro da realidade de cada um.
Agora o céu já está mais claro, ouço os pássaros cantando bem próximo daqui, acordando para mais um vôo matinal, numa algazarra esfuziante, a não há nada mais gostoso do que acordar bem cedo ouvindo o canto dos pássaros, ou quem sabe de um galo ao longe, a nos acordar para mais um dia de trabalho.
Daqui a pouco é hora de me lavar e me preparar para um dia de trabalho, mas como sempre, vou me recolhendo para os meus afazeres, sabendo que amanhã, terei mais um capítulo reprisado dessa mesma novela, a menos que o dia amanheça chovendo. Pois nesse caso o capítulo dessa novela será bem diferente.

Uma história, uma lição de vida

Acho que pouca gente conhece essa história a respeito de Pelé. E como ela é tão profunda e marcou a minha vida, resolvi contá-la. Acredito até que, se todas as crianças, conhecessem essa história, elas pensariam melhor antes de colocar um cigarro na boca. Por isso, gostaria de compartilhar essa história, que é uma verdadeira lição de vida...

Uma lição de vida



Uma lição de vida

Paulo de Almeida Ourives

Tem pessoas que nascem, crescem, brincam, começam a estudar, vão aprendendo nas escolas o que é certo e o que é errado, vão envelhecendo, amadurecendo, mas chegam num ponto da vida, que resolvem abolir tudo o que aprenderam em prol das aparências. Por mais que se diga que o que elas estão fazendo é ruim, e prejudicial à vida delas próprias, ainda assim elas insistem em continuar burlando os conselhos e avisos de pais, médicos e amigos de família. Não adianta, o cigarro é um vício, e normalmente quem fuma acha que pode parar a qualquer momento como se parar de fumar fosse tão simples como deixar de usar aquela camisa que a amiga da mãe dera de presente.
Não é tão simples assim, conheço muitas pessoas que só pararam depois de muito tempo, depois que um enfisema pulmonar, ou um derrame (conhecido também como AVC), lhe derrubou. Há pessoas que mesmo depois de um derrame ainda continuam a fumar, como se isso fosse a coisa mais banal do mundo, mas a cada cigarro acesso e uma tragada, na verdade todos estão se suicidando, pois o cigarro é o maior veneno criado pelo próprio homem.
Faço estes comentários porque nunca fumei, e confesso que quero mais é distância de qualquer cigarro. Principalmente se for depois de um ótimo banho, ter feito a minha barba, posto minha loção após barba. Como é horrível, você sair à rua, todo perfumado, e de repente na sua frente aparecer um sujeito fumando e expelindo aquela fumaça que o vento sempre faz questão de lançar na sua direção, e lá se vai, todo o prazer de uma barba bem caprichada, o perfume da loção, e o prazer de ter tomado um banho daqueles.
Quando eu tinha mais ou menos 10 anos, meu pai, me deu o melhor presente que um pai pode dar para o seu filho, um livro. Aquele era um livro todo especial, não era para mim, em especial, mas para ele, e enquanto ele trabalhava eu folheava aquelas páginas e as lia com toda atenção. Não era um livro qualquer, era um livro em que Pelé ensinava os seus melhores truques e chutes, para uma batida de falta ou passe saírem perfeitos. Muito do que usei jogando futebol, aprendi ali, naquele livro, mas, foi ali naquele livro, que estava registrada uma das maiores lições de vida do menino Édson Arantes do Nascimento, e eu, como bom leitor, li e guardei para mim aquela lição, como um dos dez mandamentos que Deus deu a Moisés no Monte Sinai.
Pelé contou neste livro, que uma vez quando ainda morava em Bauru, e jogava no Baquinho, ele e seus colegas estavam na rua brincando, até que resolveram parar um pouco e sentar no paralelepípedo para conversar. Um daqueles garotos, que era bem mais velho do que ele (ele tinha entre oito e dez anos), estava com um cigarro aceso na mão, e fez com que cada um daqueles meninos desse uma tragada. Sem graça, com aquela situação, o menino Édson, infelizmente foi obrigado a colocar e tragar aquele cigarro na boca. Naquele mesmo instante, em que o cigarro estava em sua boca, surgiu a figura do Seu Dondinho na rua, que fingiu que não tinha visto o filho com o cigarro na boca. O menino Édson, ficou completamente branco de susto, tirou o cigarro da boca o mais rápido que fosse, e começou a imaginar a surra que levaria quando chegasse em casa.
Resolveu então, que chegaria um pouco mais tarde do que o horário habitual, tiraria os seus sapatos (naquela época não se usava tênis, como hoje), e entraria de mansinho para que seu pai, já estivesse dormindo, e fugisse assim da surra que possivelmente iria levar.
O garoto então, ao chegar em casa, fez exatamente tudo do jeito que imaginara, até porque as luzes da sala estavam apagadas, consequentemente o seu pai já deveria estar deitado na cama. Tirou os sapatos, e entrou pé ante pé, pela casa, ao passar pela sala, entretanto, a luz se acendeu. Édson ficou pálido, e começou a tremer já temendo pelo pior. Eis então que seu pai, lhe perguntou:
- Porque você está entrando na sua casa desse jeito, meu filho? Perguntou Seu Dondinho.
O menino empalideceu, olhos arregalados, não conseguia balbuciar uma única palavra de temor, pelo que havia feito lá na rua, algum tempo atrás.
- Meu filho, só vou lhe fazer mais uma pergunta. Que gosto tem a fumaça? Indagou Seu Dondinho.
Pronto, aquela fora a fatídica pergunta, que o menino Édson e muito menos eu, esquecemos. Ele por ter escutado, eu por ter aprendido.
O tempo passou, o menino Édson cresceu, virou Pelé. Encantou o mundo, com suas jogadas, suas tabelinhas com Coutinho, Pepe, e posteriormente Toninho, que vieram a consagrar o Santos Futebol Clube, como o primeiro clube bi-campeão mundial interclubes, e tantos outros títulos conquistados pelo famoso “Peixe Santista”. Pelé ainda conquistou diversos títulos pela seleção brasileira, jogou e encerrou a sua carreira no New York Cosmos, nos Estados Unidos, mas uma coisa todos devem se lembrar, ele jamais fez uma propaganda sequer de cigarro, e bebida alcóolica.
E foi através desta lição de vida, do Atleta do Século, que eu também prefiro manter a maior distância possível do cigarro, “o veneno do século”.

Como eu sou...

Em meio a tantos textos, um dia resolvi escrever como sou, e me vi assim, "como um rio". E me espelhei no Rio Paraiba para escrever essa história, ou melhor, para mostrar como sou.
Há pessoas que me julgam de uma forma nada simpática, mas só quem me conhece bem, sabe que não sou tão "monstruoso" assim. Então, já que vocês querem me conhecer, leiam o texto abaixo.

Sou como um rio




Sou como um rio

Paulo de Almeida Ourives

Sou como um rio, que nasce, cresce,
agiganta-se e toma o seu rumo.
Um rio que nasce de uma pequena gotícula,
saída de uma montanha, que despenca de um precipício,
se levanta, e vai procurando um rumo.
Cresce, se avoluma, ganha corpo,
noutras se comprime,
diante do minúsculo espaço por onde passa,
mas segue sempre o seu rumo.
Sou como o rio, que encontra pedras
grandes e pequenas, precipícios,
atalhos e desvios,
mas não mudo o meu rumo,
não entro em desvios,
sigo sempre o meu caminho.
Às vezes sou calmo, tranqüilo,
e vejo com felicidade,
pessoas mergulhando em mim,
banhando-se com alegria,
descobrindo-me como forma de lazer.
Noutras vezes, sou bruto, rijo, enfureço-me,
e aí não há nada que impeça o meu caminho,
vou destruindo e arrasando tudo o que vejo,
invado casas, destruo tudo, ponho gente ao desabrigo,
carrego e jogo para bem longe, pessoas que nem conheço,
na minha fúria incessante.
E como após cada tempestade, vem a bonança,
vou me acalmando,
diminuindo a minha fúria, a minha raiva,
e voltando a minha calma, a minha mansidão,
para alegria de tanta gente.
Nada faz mudar o meu rumo,
mantenho-me sempre fiel ao curso planejado,
o rumo que me deram, onde outras gotas já passaram.
Passo por cidades, pessoas vêm e vão,
outras navegam por mim.
Passo por ilhas, ilhotas, pedaços de terra,
povoados, tribos, gente, animais,
não importa, por onde passe,
todos me respeitam e temem-me.
A única coisa que sei,
é que um dia finalmente,
irei me consagrar,
como um artilheiro que marca um gol,
correrei de braços abertos para a glória,
lançando-me para o mar,
encontrando-me com o Deus infinito.

Sobre "A bomba"

Um dia quando estava entrando na sala de aula, e vi uma colega minha pendurada na janela. Resolvi, só de molecagem, dar um susto nela. O grito que dei foi tão grande, que não houve jeito, ela tremeu dos pés à cabeça, e quem estava na sala, acabou morrendo de rir da cena.
Não teve jeito, saí, da faculdade e à noite, sentado em meu computador, resolvi rever a cena e escrever esse texto abaixo, mas lógico mudando a cena, os personagens e o tema.
Mas, curiosamente, quando comecei a escrever, lembrei-me da redação do Jornal dos Sports, no Rio de Janeiro, localizado na rua Tenente Possolo, e assim, vendo a cena em minha mente, fui digitando esse texto abaixo.

A bomba


A bomba

Paulo de Almeida Ourives

De repente a porta se abre com tal violência que assusta a todos aqueles que se encontravam naquele recinto, imediatamente, todos olham para aquele sujeito louco que num brado grita:
- “Tenho uma bomba!”.
A partir desse momento, o caos estava instalado naquela sala, cadeiras voaram em direção as vidraças das janelas e o que se ouviu em seguida eram os estilhaços dos vidros caindo na calçada, cadeiras espatifando-se pelo chão, outras cadeiras caindo em cima de carros estacionados ao longo da calçada e aquela multidão de homens pulando por cima das mesas, ganhando o parapeito das janelas e fugindo pela rua tomando destino ignorado.
O homem que havia dado o grito e invadido aquela sala, ainda estava parado na porta, não conseguindo raciocinar sobre o que ele afinal tinha visto naqueles poucos segundos, muitos homens fugindo pela janela sem saber do que se tratava. Ele ainda segurava na mão esquerda o pequeno embrulho do tamanho de um livro, que estava embalado em um papel de presente e amarrado com uma fitinha cor-de-rosa.
Vestido com uma calça jeans surrada, um cinto preto velho que era grande demais para aquele homem alto e magro, e com uma ponta caindo pelo lado esquerdo. Nos pés, um tênis branco rasgado no lado interno, bem próximo do dedão de cada pé, como um sinal de que o dito cujo gostava de dar uns chutes em qualquer coisa. A camisa listrada de manga comprida estava aberta nos três primeiros botões, deixando a mostra a camiseta branca que estava vestida por baixo. As mangas da camisa listrada estavam mal dobradas e amarfanhadas, sinal de que o sujeito havia aberto as mangas as pressas e não tinha feito a dobra de maneira perfeita.
De repente, em meio aquele silêncio na sala, e um ou outro ruído vindo do lado de fora, o homem começa a caminhar pela sala, até que consegue encontrar uma mesa em bom estado, com uma máquina de escrever em cima.
Senta-se, e ao procurar o papel que deve estar em uma das gavetas daquela mesinha, ele percebe algo, um barulhinho estranho, como o de um telegrafista tentando emitir alguma mensagem para alguém. Então ele olha para a direita, estica o pescoço, procura em vão entre uma olhada e outra por entre as mesas, sem sair de sua cadeira, e não vê absolutamente nada. Dá então uma olhada para a esquerda, se contorce na cadeira para poder enxergar melhor ao seu lado e atrás dele, e também não vê nada.
Resolve então, levantar da cadeira e olhar por cima da máquina de escrever, e vê então debaixo de uma mesa, completamente de quatro, um cidadão com as mãos entrelaçadas sobre a cabeça, o queixo no chão, e aquele barulhinho estranho que era ele rangendo os dentes de medo.
O cidadão então levanta da cadeira, dá a volta pela mesa, abaixa-se e pergunta para o homem de óculos ainda em baixo da mesa o que ele está fazendo ali, e o baixinho então responde:
“Po-po-por fa-fa-fa-fa-vor ti-ti-ti-tira es-es-essa bom-bom-bomba da-da-daqui, que-que-que e-e-eu nã-nã-não que-que-quero mo-mo-mo-morrer po-po-pois e-e-eu a-a-ainda so-so-sou mu-mu-muito no-no-novo pra-pra mo-mo-morrer. Te-te-tenho mu-mu-mulher e-e-e tre-tre-três fi-fi-filhos to-to-todos pe-pe-pequenos”, gaguejava o baixinho, já se levantando e tremendo de medo feito vara verde.
O cidadão ouviu aquela explicação em silêncio e com tremenda paciência, bem diferente de como ele havia rompido por aquela sala há poucos instantes atrás, causando um verdadeiro pânico em todos aqueles que estavam naquela redação do jornal.
- “Mas eu só disse que tinha uma bomba!”, porque esse medo todo?, perguntou o cidadão.
- “Ma-ma-mas vo-vo-ce en-en-entra a-a-aqui des-des-desse je-je-jeito e-e-e a-a-ainda pe-pe-pergunta?”, vo-vo-ce pa-pa-parece mais um-um-um pa-pa-palestino com-com-com essa-essa ba-barba, di-diz que-que te-tem u-uma bom-bomba e-e nã-não quer que-que nin-nin-ninguém fu-fu-fuja?”, tentou explicar o baixinho de óculos já quase se acalmando, pois só de olhar para aquele pacotinho ao lado do cidadão, ele ficava completamente nervoso e não conseguia parar de gaguejar.
Até que o cidadão então, percebeu o olhar do baixinho para o seu pacotinho, e perguntou:
- “Mas, vocês estão com medo disso?”. Apontava para o pacotinho. “Esse é o presente que eu vou dar para a minha mulher! É uma caixa de bombons finos! Não há necessidade de ter tanto medo assim!”, explicou o louco cidadão.
- “Então qual é a bomba?”, perguntou o baixinho que nada mais era do que o chefe de redação daquele jornal.
E o nosso amigo então relata para ele, que “a grande notícia é que o Zelão Malvadeza não irá jogar a decisão do campeonato de futebol do bairro de Paciência. E com isso, o Zelão, que é o melhor jogador do time do Tranca-Rua Futebol Clube, não participará do jogo final, o que se conclui que o time dos Perebas Não Entendem Nada de Futebol Clube, terão a chance de ganhar o campeonato do bairro, considerando-se assim em uma autêntica zebra, pois os caras são muito ruins”.
O baixinho então já com aquele olhar característico de quem não gostou nada daquele assunto resolve então dar por encerrada aquela conversa e grita para o referido cidadão:
- “Tira sua bomba daqui e vai pra p. que pariu!”, gritou, apontando na direção da porta, para aquele cidadão que havia dado um verdadeiro susto em todos os repórteres que sumiram rua afora, acreditando que ele tinha uma bomba de verdade e faria tudo aquilo voar pelos ares.
- “Mas eu sou o repórter novo, e hoje era o meu primeiro dia!”, tentou argumentar o cidadão que já estava quase na porta.
- “Fora daqui! Não quero saber de Zelão, de Pereba e nem de Tranca-Rua e tenho muita raiva de quem sabe alguma coisa, portanto, caia fora daqui! Seu imundo! E não me apareça nunca mais!”, concluiu o chefe da redação.
Três dias depois, os repórteres voltaram para a redação, após ficarem sabendo que a redação do jornal ainda estava de pé, e que o louco que havia entrado naquela tarde era um repórter que o jornal havia acabado de contratar.
Um dos repórteres então chegou no ouvido do chefe da redação e perguntou se ele queria saber de uma novidade. Como o chefe gostava de uma novidade, ele condescendeu e quis saber qual a boa nova, e o repórter então concluiu:
- “O time do Tranca-Rua ganhou o campeonato de futebol lá em Paciência! É que o Zelão depois que viu que não tinha mais jeito em entrar para jogar a decisão resolveu escalar o seu filho, que joga muito mais do que o pai. E o time dos Perebas, além de perder o campeonato, tiveram dois jogadores expulsos, um deles era aquele louco!”, explicou o repórter.
- “Bem feito!”, resmungou o chefe da redação.