segunda-feira, maio 22, 2006

A respeito do "Natal marcante"

Existem momentos na vida da gente, que nunca o esquecemos. Esse Natal, do qual não lembro o ano, mas que teria sido entre 72 e 77, tocou-me profundamente. O personagem em questão, Itamar, foi um andarilho, conhecido no Parque São Caetano, mas que não possuía o menor carinho, respeito e dignidade dos seus parentes, que viviam na mesma rua, e à poucos metros de um dos muitos terrenos baldios, por onde ele construiu sua casa.
Itamar, marcou-nos (a mim e a minha família) profundamente, pela simplicidade, amor, fé e subserviência naquilo que Deus havia lhe reservado.
Um homem que havia tido uma vida financeira estável, e através dos falsos-amigos, e das coisas "mundanas", como ele dizia, perdeu tudo, exceto a dignidade e a vontade de pregar a Bíblia, todos os dias, às 6 horas da manhã, e às 6 da tarde.
Trabalhador, honesto, simpático com todos os moradores, Itamar foi um "grande amigo", fiel companheiro, e estava sempre pronto para ajudar, como por exemplo, limpar as caixas de gordura, capinar um terreno, limpar o gramado, e não perdia a pose com seu velho e surrado terno preto.
Não tinha mais ambição, e trabalhava apenas para suprir as suas necessidades. Vendia o que produzia e trocava as mercadorias, apenas para satisfazer aquele momento.
Itamar foi um herói.
Um herói que viveu, lutou, e conseguiu provar que a vida de sacrifícios é muito mais honrada do que trabalhar armando planos para ser bem-sucedido, através de falcatruas.
Há algum tempo atrás, eu ainda tive o prazer de vê-lo por duas vezes, uma na Rodoviária Roberto Silveira, e a outra no bairro onde passei a maior parte da minha adolescência.
Creio que ele não reconheceu-me, mas isso não importa. O que importa, é que ele ainda está presente dentro de mim, e como disse um professor, "ele ainda é um imortal que vive dentro de cada um de nós (eu), enquanto estivermos sempre lembrando dele".
Por um lapso de memória, eu havia esquecido de colocar este texto, que também faz parte dos inúmeros textos que escrevi para o meu livro. Mas creio, e tenho certeza que vocês também acharão que ele ficou em um lugar de destaque, porque está bem acima de tantos outros textos que já escrevi...

Um Natal marcante...

Um Natal marcante

Paulo de Almeida Ourives

Podia ter sido um Natal como outro qualquer, ou como tantos Natais que passamos juntos em família, mas aquele Natal ficou marcado para sempre em minha vida, e acredito que até mesmo para os meus pais. Na época eu morava no Parque São Caetano, Campos dos Goytacazes, bairro tranquilo, onde os vizinhos eram ótimos, e a garotada mais ainda, porque todos faziam parte do mesmo time de futebol. O ano, eu já nem lembro mais qual foi, porque naquela casa, eu residi entre 1972 e 1977.
Como acontecia em todos os anos, e principalmente na véspera de Natal, pela manhã havíamos acompanhado o meu pai até o Mercado Municipal, onde ele fora evidentemente, fazer as compras para a ceia. Quando voltamos, cumpri com o restante das minhas obrigações, ajudando a minha mãe em alguns afazeres domésticos, para então poder ir ao campinho jogar um pouco de futebol. Enquanto isso, minha mãe e meu pai se encarregavam de preparar o almoço e os quitutes para o jantar.
Após o almoço, como de costume, fomos para o nosso quarto descansar. Quando acordamos já bem de tarde, meus pais nos liberaram para jogar futebol de novo, enfim, o que eles mais queriam é que ficássemos um pouco longe de casa, enquanto eles preparavam tudo da melhor maneira possível.
É bem verdade que, enquanto eu e meu irmão, estávamos fora de casa, havia chegado algumas lembranças como de costume em todos os Natais. A loja, Machado Vianna, mandava como em todos os anos, um peru vivo, para minha mãe matar, e preparar para a ceia, além de uma enorme cesta de natal com diversos produtos, e muitas garrafas de vinho entre elas, uma de quase cinco litros. Fora outras lembranças e cartões de Natal que o meu pai ganhava de inúmeros amigos.
Ao entardecer voltávamos do futebol, tomávamos os nossos banhos e ficávamos em frente à televisão esperando à hora da ceia, que normalmente acontecia por volta das 21 horas. Até porque acordávamos muito cedo e nesse horário já estávamos mais do que cansados.
Na hora da ceia, estávamos assistindo a mais um show do Roberto Carlos na televisão, quando de repente, meus pais lembraram da enorme garrafa de vinho que havíamos recebido de presente da Machado Vianna e, numa rápida conversa decidiram dar aquela garrafa para a única pessoa que sabíamos, iria adorar, ganhar aquela garrafa, Itamar.
Itamar, era uma pessoa solitária, que vivia precáriamente num terreno baldio. Abandonado pela família, que curiosamente residia a poucos metros do terreno, em que ele havia construído o seu barraco, e vivia da venda dos produtos que ele colhia no terreno. Naquele terreno onde ele habitava, havia mamão, banana, tomate, aipim, tempero verde, alface, couve e até abóbora. Curiosamente ele vendia tudo o que colhia, mas não visava ao lucro, apenas o necessário para comprar pão e algumas gramas de mortadela. Não bebia, não fumava, e não era um viciado em drogas, até porque naquela época, quase não se ouvia falar em drogas. Ele ainda vivia da venda das latas de óleo de soja, e margarina, que conseguia no lixo. Para que o leitor tenha uma idéia, uma vez foi necessário que dois caminhões levassem a enorme quantidade de latas de óleo, que ele havia juntado.
Ele, apesar de viver quase que na mendicância, procurava por todos os meios lutar contra aquela situação, não sossegava um minuto sequer, acordava cedo todos os dias e entre as inúmeras latas que ele conseguia, ele fazia diversas coisas, desde carrinhos de lata, pás e cestas de lixo, panelas e outros utensílios que não consigo lembrar. Mas, todos os dias às 6 horas da manhã e da tarde, ele fazia as costumeiras pregações da Bíblia, em uma calçada vizinha a casa dos seus parentes, que sequer lhe forneciam um copo de água.
Mas naquela noite, meu pai e minha mãe, pediram-me que fosse até o terreno chamar por ele, para lhe dar um pouco da nossa ceia e a garrafa de vinho. Quando cheguei perto do nosso portão, pude ouvir as batidas que ele dava em alguma lata ou panela, e entre as batidas, a sua voz cantando uma canção religiosa em louvor a Deus. Atravessei a rua, cheguei na entrada do terreno e gritei várias vezes até que ele pudesse me ouvir. Quando gritava chamando por ele, eu o fazia no pequeno intervalo entre uma batida e outra na panela, até que repentinamente, o barulho cessou. Alguns segundos depois percebi um movimento entre o matagal, e ele veio até o portão, onde eu lhe pedi que trouxesse um prato, para que pudéssemos dar um pouco da nossa ceia. Ele voltou até o barraco, e trouxe uma lata de goiabada, pois não tinha pratos, e até mesmo os talheres e o seu copo eram de lata.
Levei aquele que seria o seu prato, para minha mãe, ela então pegou um dos pratos de papelão que possuía, um jogo de talheres que usávamos e, preparou o prato com uma parte da nossa ceia. Meu pai, enquanto isso estava no portão de nossa casa, conversando com ele, e eu, ainda fui pegar a enorme garrafa de vinho para lhe dar.
Quando lhe demos uma parte da nossa ceia e a garrafa de vinho, vi em meio a escuridão daquela noite, um brilho nos seus olhos, eram lágrimas de agradecimento, pelo que estávamos fazendo. Dar um pouco do que tínhamos para ele.
...
Itamar era assim, um homem simples lutador, trabalhava como ninguém, não fazia mal a nenhum de nós, que morávamos naquela rua. De vez em quando ele interrompia as nossas peladas para correr atrás da bola, mas cansava com o baile que dávamos nele. Era um homem alegre, fanfarrão, mas como disse acima, não possuía vícios.
Daquela casa, no Parque São Caetano, onde morei por alguns anos, fomos para o Rio de Janeiro. Voltamos três anos depois, mas para residir no centro da cidade e posteriormente no Horto. Nesse período nem lembro das poucas vezes em que o vi. Fomos para o Espírito Santo, voltei com meu pai para o Estado do Rio, e somente a pouco menos de três anos, é que o vi, duas vezes. Uma na Rodoviária Roberto Silveira, quase ao meio-dia, fazendo a sua pregação bíblica, a outra vez, fora no bairro onde havíamos residido.
Até que um dia, há um ano e meio, eu soube de sua morte, por aquela que havia sido uma das grandes amigas da minha mãe.
Desde que comecei a pensar em escrever, nunca esqueci desse Natal em particular, e isso deve fazer quase trinta anos, e jurei para mim que se conseguisse publicar um dia um livro de crônicas, este Natal seria lembrado e perpetuado para sempre.
Não sei dizer, confesso, se vocês consideram este texto como uma crônica, ou preferem que ele seja apenas um relato de uma noite de Natal, mas deixo estas linhas aqui escritas como uma homenagem a aquele que tentou de uma maneira ou de outra transmitir a sua mensagem de amor, de trabalho e de fé em Deus, com o que tinha em mãos. Para vocês que estiverem lendo esse texto, lembrem-se de que no mundo, há milhares de pessoas vivendo como o Itamar, e que nessa noite, não possuem sequer um prato de comida, ou um copo de vinho, para brindar o nascimento de Jesus. Ao Itamar, desejo apenas tardiamente, que você descanse em paz, e de preferência ao lado d´Aquele a quem você tanto amou, Jesus Cristo.

sexta-feira, maio 19, 2006

Você é muito importante para mim!


Você é muito importante para mim!
Você corre, almoça, trabalha, canta, chora, ama.
Você sorri, mas nunca me chama.
Você se entristece, depois se acalma, mas nunca me agradece.
Você caminha, sobe e desce escadas e não se preocupa comigo.
Você tem tudo e não me dá nada.
Você sente amor, ódio, sente tudo, menos a minha presença.
Você tem os sentidos perfeitos, mas nunca os usa por mim.
Você estuda e não me entende, ganha e não me ajuda, canta e não me alegra.
Você é tão inteligente e não sabe nada de mim.
Você reclama dos maus tratos, mas não valoriza o que eu faço por você.
Se você está triste, me culpa por isto, mas se está alegre, não me deixa participar de sua felicidade.
Você faz o que os outros ordenam, mas não faz o que lhe peço com humildade.
Você subiu na vida, pisa nos menos favorecidos, se não subiu, descarrega sobre mim toda a sua ira.
Você não tem tempo para nada, nem ao menos para pensar em mim.
Você quebra galhos para amigos, mas não tira um espinho de minha testa.
Você reclama tanto da vida, mas não sabe que a minha é tão triste por sua causa.
Você entende todas as transações do mundo, mas não entende a minha mensagem.
Você abaixa os olhos quando um superior lhe fala, mas não levanta esses mesmo olhos quando lhe falo do meu amor.
Você fala das pessoas e não sabe que conheço toda a sua vida.
Você enfrenta muitos obstáculos na vida, é forte, mas que pena, embora não admita, sei que você tem medo de mim.
Você defende seu time seu ator, mas não me defende no meio dos seus amigos.
Você não sente vergonha ao se despir perante alguém, mas sente vergonha de tirar sua máscara diante de mim.
Você corre com seu carro, mas nunca corre para os meus braços.
Você costuma “às vezes” falar do que eu fiz, mas nunca me deu oportunidade de falar do que você fez.
Você é um corpo do mundo, e eu sou um mundo em seu corpo.
Eu sou alguém que todos os dias bate à sua porta e pergunta: Tem lugar para mim, na sua casa, na sua vida, no seu coração?
Eu estou presente nestas linhas que você, por curiosidade começou a ler.
... Eu sou Jesus Cristo!
Quero simplesmente que você me aceite como amigo e me confesse como Senhor e Salvador!

“Se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor; e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos serás salvo”.
Romanos 10:9

Deixe Deus ser Deus em sua Vida!

Enfim...

Com esses textos consegui o meu objetivo, de colocar na internet, um pouco do que já escrevi em alguns momentos de rara inspiração.
Mostrei em "A inspiração", como faço para criar os meus textos, porque é justamente caminhando em silêncio, que consigo ter paz espiritual, e conversar comigo mesmo a respeito de tudo o que se passa em minha vida. Infelizmente, não tenho caminhado ultimamente, para tentar criar outras histórias. Aliás, por falar em histórias, o meu objetivo agora, é escrever um outro livro, mas de ficção voltado para a família e as crianças, e eu necessito muito, de encontrar um tempo para dedicar-me a dar vida aos meus personagens.
A "Canetinha chata!" e "O livro", são praticamente complementares, basta dar uma lida e compreenderão. O mais interessante nessas duas histórias foi o fato de que eu as criei, caminhando e pensando. Primeiro no livro, nessa vontade que o ser humano tem de deixar para a posteridade um livro contando histórias, fatos, teses, pensamentos ou qualquer outra coisa, que lhe venha a cabeça.
Já a "canetinha chata!", veio logo em seguida, quando eu já me imaginava dando autógrafos do meu primeiro livro. E por outro lado, com uma mania que eu tinha de ficar brincando com a caneta na mão. Além é lógico, do fato de já ter tido uma coleção de canetas Bic, uma de cada cor, e cada uma, para um determinado fim. O mais curioso nessa história, foi o fato de que ao ouvir a canetinha falando comigo, o som que me vinha na mente, era de uma colega da faculdade. E tive o enorme prazer em ler esse texto para meus colegas em sala, utilizando, claro, a voz dela, como a canetinha, mas de "chata", a minha colega Monique não tem nada, aliás, é ótima pessoa.
Em "O escritor pianista", está o meu "eu". Como digitador e datilógrafo, que já ouvi murmúrios e comentários de outras pessoas, que ficam embasbacadas com a velocidade que uso para escrever textos no teclado do computador. Isso sem falar, que já escrevi um texto inteiro, de olhos fechados, pois o barulho ao meu redor era tanto, que só mesmo de olhos fechados para buscar a necessária concentração e fazer um texto. Lógico que isso me deu a sensação de perceber como o deficiente visual consegue enxergar através dos dedos das mãos. Porque sem a visão, ele exterioriza e amplia a ausência desse sentido humano para outros órgãos do corpo.
"O elevador", é uma história bem humorada, em um desses raros momentos em que nos permitimos, fazer troça com alguém. Só posso dizer que o elevador existe, mas não consigo mais me lembrar em qual dos edifícios do centro de Vitória ele está.
O "Relógio do Seu Candinho", bem, é uma adaptação de um clássico da literatura gaúcha, adaptada para o momento e o lugar em que eu vivia no Espírito Santo. Adaptei essa história para contar a respeito da criatura que vi, quando saí de uma padaria, e tudo veio à tona, enquanto eu atravessava a rua.
Já "Com certeza, de quê?", não preciso nem dizer, é sobre essa mania das pessoas responderem sempre "com certeza". Haja paciência, para ouvir isso, 500 vezes.
"Maria", bem é uma história de ficção, criada não me lembro bem em que momento da minha vida, mas procurei fazer uma brincadeira com rimas de palavras, e o resultado é esse que vocês irão ler.
"Conversa", bem, é a respeito dessa mania jovem, de conversar citando gírias. O fato é que a "galera", já estão cheia de gírias na cabeça, que só mesmo eles, para compreenderem o que estão dizendo, apenas por monossílabos.
Enfim, espero que tenham gostado dessas e das outras histórias que já publiquei.

A inspiração



A inspiração

Paulo de Almeida Ourives

Tem pessoas que conseguem se inspirar de várias formas, eu pelo menos, consigo a minha inspiração para escrever caminhando. Isso mesmo, é caminhando pelas ruas da cidade que consigo pensar ou ver, alguma coisa que me desperte a atenção e eu passo então a ficar imaginando mil coisas a respeito daquilo que vi a poucos instantes.
Algumas dessas crônicas foram criadas desse modo, como “A treinadinha”, “A bomba”, “O horário eleitoral obrigatório”, e mais algumas. É bem verdade que no início deste livro as crônicas se referiram a fatos do cotidiano que vivi em Marataízes, Vila Velha, e Vitória, no Espírito Santo, mas vale lembrar que “A Greve de ônibus”, “A pedra”, e “A enseada”, todas elas tinham um fato comum, elas estavam em uma sequência, pois eu não poderia ter me inspirado na segunda e na terceira, se não tivesse enfrentado uma greve de ônibus, porque tanto a pedra, como a enseada são vistas de perto, quando fazemos a viagem de barca entre Vila Velha e Vitória.
Confesso que se não fosse por isso, e estivesse sempre andando de ônibus, eu jamais poderia vislumbrar e apreciar aquelas duas maravilhas da natureza, a pedra e a enseada. Pois não estaria em meu mais completo silêncio, e observando tudo o que se passava diante de mim, sem que estivesse pleno da minha sensibilidade, para pensar e imaginar estas três crônicas em uma seqüência tão rápida.
Já ouvi dizer que o cantor capixaba Roberto Carlos, sempre leva um gravador dentro de um dos bolsos e assim quando ele sente que está inspirado e alguma coisa lhe vem a cabeça ele liga o gravador e começa a gravar tudo o que lhe vem a mente.
Eu ao contrário, não possuo gravador, aliás utilizo a minha memória, como gravador, e os meus olhos como máquina fotográfica para reter em minha retina e posteriormente em minha memória aquela imagem que me chamou a atenção. E assim vou escrevendo muitas crônicas.
Enquanto estou escrevendo este livro, muitas vezes tenho de parar para pensar em meus trabalhos escolares, e no meu trabalho diário, com o jornal, e nas próximas matérias jornalísticas. Ou seja, é tanta coisa que passo alguns dias, sem escrever mais uma crônica, de tão cansado. Mas sei que somente com a prática e com muito esforço é que vou voltando a minha atenção para este livro e para as outras coisas que preciso escrever.
O cansaço é o pior inimigo da inspiração, pois ela abate o corpo de tal forma, que não há ânimo para nada. E assim cada um perde um tempo precioso para escrever um capítulo de uma novela, ou mais uma crônica ou artigo para um jornal, e eu mais uma crônica para o meu livro. Mas não desisto e sei que depois de mais uma caminhada voltarei com toda força a escrever mais uma crônica para este livro, ou quem sabe já me preparando para outros livros.

Canetinha chata!



“Canetinha chata!”
Paulo de Almeida Ourives

Ei! Psiu!
Ahn? Onde?
Aqui!
Aqui, onde?
Na sua mão!
Na minha mão?
É!
Ué, uma caneta que fala!
Tá ficando louco! Caneta não fala.
Mas e o que você está fazendo?
Eu? Eu estou falando com a sua consciência.
Minha consciência?
É! Pôxa! Você vive criando diálogos dos seus personagens com a sua consciência, e não está entendendo o que está acontecendo?!
Não!
Veja bem! Você está pensando que eu estou falando com você, e você está pensando que está falando comigo, entendeu? Ou não entendeu?
Mas...
Não! Não precisa abrir a boca para falar comigo. Basta apenas pensar que está falando comigo!
Ahhhhhhh!
Ufa! Até que enfim, você entendeu! Já estava ficando preocupada!
Tá! Tá bem! Mas preocupada, por quê?
Porque você... Ah, deixa pra lá. Vamos mudar de assunto. Mas, quem é o figurante aí do seu lado?
Esse aqui do meu lado?
É!
Bem, ele é um escritor famoso.
Hum! Nunca vi mais gordo!
Mas que canetinha abusada!
Abusada, não! Menosprezada!
Menosprezada, porque?
Porque além de você, a bichinha aí do lado, tá tirando a maior onda comigo! Tá me esnobando!
Mas que bichinha?
A gorducha!
Que gorducha?
A que tá na mão dele!
Mas é só uma caneta!
E você pensa que ela não tá falando! Olha lá! Tá rindo de mim!
Rindo porque?
Porque você me trouxe aqui nesta festa, com esse vestido transparente, e tá todo mundo vendo o meu corpinho azul.
Era só o que me faltava!
Faltava o quê? Você bem que podia ter me dado um vestido novo!
Ham! Uma caneta abusada, que pensa que fala, e agora acha que quer um vestido? Brincadeira!
Brincadeira? Sacanagem é o que você faz com as minhas irmãs!
Estão todas morrendo de raiva de você!
Porque?
Porque você usa e abusa de algumas, e deixa as outras mofando, esperando por você. Pô! Vê se te manca, cara!
Essa é boa!
Hahahahahahahahahahaha! (gargalhada)
O que houve?
Olha lá! A bichinha levou outro tombo. Hahahahahahahaha! (gargalhada)
Pára de rir!
Hahahahahahahahahahaha! (gargalhada)
Pára de rir! Eu já falei!
Hahahahahahahahahahaha! (gargalhada)
Pára de rir! Você está me tirando do sério!
Tirando do sério porque? A lá, com toda aquela pompa, levou outro tombo!
Já falei, para de rir! Se não eu vou rir também!
Porque? Você não pode rir, não?
Não! O que os outros vão pensar?
Sei lá! Vão pensar que você está achando isso ótimo.
Ótimo de quê?
Chega! Vamos mudar de assunto!
Ufa! ainda bem! Já não agüentava mais ouvir as suas gargalhadas.
Ah, mas que foi engraçado, foi! Você não viu?
Vi o quê?
O gordo tentando segurar a bichinha pelos quadris, mas os dedos acabavam escorregando, iam para as pernas e ela levava o tombo.
Muito bonito! Né! E como é que você sabe que ele estava segurando ela pelos quadris?
Ué! Você também está fazendo a mesma coisa!
Hmmm!
Ó pode parar! Não gostei dessa cara!
Que cara?
Essa que você fez!
Mas eu não fiz nada!
Fez sim, eu vi!
Como é que você pode ver, você não tem olhos?
Tenho sim! Está debaixo deste chapéu horrível que você me colocou.
Eu não! Você veio assim da fábrica!
Mas foi você que me comprou!
Que petulância!
Petulância, uma ova!
Pára! Chega! Não agüento mais!
Eu não!
Que caneta chata!
Chata, nada!
Chata, sim!
Chata, porque? Só porque te chamei? Não pedi para você me comprar!
Ah, meu Deus!
Além do mais, não sei porque você me trouxe aqui neste lugar!
Mais essa agora! Eu tenho um trabalhão para lançar o meu livro aqui nessa festa, escolho você para dar os autógrafos e você ainda me faz uma dessas! Ora, bolas!
Mais essa o quê! As minhas irmãs estão chateados contigo. A pretinha diz que já não agüenta mais trabalhar pra você!
O que? Não acredito!
É! Ela me disse, que você usa e abusa dela, e ela coitada, trabalha feito uma condenada!
Ahn?! E daí? E as outras?!
As outras?
É!
Bem, a verdinha coitada! Já envelheceu, secou, e você até agora, nada!
Como, nada?!
Ó não gostei disso!
Disso, o quê?
Desse olhar!
Mas que olhar?
Desse que você fez! Você pensa que eu não vi!
Vai começar de novo?
De novo nada! Você pensa que eu não escutei?
Escutar o quê? Eu não falei nada!
Mas pensou! E eu não gostei!
Mas eu não pensei nada!
Mas, imaginou!
Vamos mudar de assunto. Você já falou da pretinha, da verdinha, e a vermelhinha?
Ahá! Curioso, você, né? Agora tá interessado no que a vermelhinha me disse, né?!
Conta logo e fim de papo!
Fim de papo, nada! Ela me disse que te acha um saco!
Saco?! Mas...
É! você só lembra dela de vez em quando.
E você? Sua tagarela!
Eu! Que tem eu?
O que você acha de mim!
Hum. Não sei!
Sua fingida! Eu que sempre te tratei bem, te trago para esta festa, e fica fazendo fofoca das suas irmãs! Sabe o que é que eu vou fazer, quando você me sacanear?
Vai fazer o quê?
Vou te jogar no lixo!
Hum! Duvido!
Duvida? Você vai ver!
Vou ver nada! Quem vai ver é você! Você não me conhece... Não sabe como eu sou, principalmente quando estou de cabeça quente.
Eu sei! Mas não sou trouxa! E coloco você de cabeça pra baixo, pra você não sujar o bolso da minha camisa, como você sempre faz com os outros, tá!
Pôxa... Só queria me divertir um pouquinho...
Mas já encheu a minha paciência! Pra mim chega! Vou colocar o chapéu nos seus pés, e te pôr de cabeça pra baixo, no meu bolso. E quando você chegar em casa, vou te colocar no lixo, como já fiz com tantas outras.
Ahá! Assassino de canetas!
Chata! E chega de papo! Hum!
Ai não me apertaaaaa!
Pronto! Agora essa caneta não me perturba mais!
...
- Moço, me dá um autógrafo? Gostei dessa crônica!
- Ah, não! De novo, não!
...
Iuhú! Voltei!
Ah, não! Vai começar tudo de novo!

O livro



O livro

Paulo de Almeida Ourives

Sou um pobre livro empoeirado e quase amarelado pelo tempo. Estou aqui preso e cercado de outros tantos livros na estante. Sei que alguns vizinhos meus, são muito importantes e famosos, outros, foram escritos por autores de renome, com fama nacional e internacional.
Enquanto alguns vizinhos só falam de filosofia, outros falam de história – e como tem gente falando de história por aqui! -, outros me contam romances, novelas, falam de peças teatrais e por aí vai.
Aqui também tem gente esnobe e chata que só fala inglês, francês, alemão e outras línguas que nem sei. Outros mais chatos ficam nos corrigindo e nos ensinando o significado e como se escreve esta ou aquela palavra.
Eu, só sei que falo de gente e de sentimentos, falo do quotidiano, filosofo de tudo um pouco, principalmente daquilo que ninguém havia pensado. Falo da vida, e procuro tocar as pessoas no seu íntimo. Às vezes faço as pessoas chorarem e se emocionarem, com o que está escrito em algumas das minhas páginas.
Aqui no meu canto, espremido por outros livros, fico feliz quando alguém me tira da estante e me leva para ler. Mas, quando isso não acontece, me retraio, faço silêncio e me recolho na solidão. Não fico triste porque alguém não me leva para ler, pois ao olhar para as minhas páginas, reflito sobre a vida. Lembro de como foi difícil para o meu autor conseguir me imprimir e me fazer chegar até aqui.
Foram noites e dias que pareciam intermináveis, meu autor, me escrevendo em seu computador e eu, ganhando mais corpo, mais páginas, até chegar o momento de ir para a gráfica, passar por impressoras e ganhar este corpinho.
Por falar nisso, sei que muitos dos meus vizinhos foram escritos à mão, com penas de ganso e tinta nanquim. Outros foram escritos em máquinas de escrever, eu por exemplo, sou da geração magnética, pois o meu autor me escrevia em seu computador, me guardava em seu HD, e me levava para passear em um disquinho de plástico.
Alguns vizinhos meus me contaram que sofreram horrores quando eram escritos pelos seus autores. Me contaram que sofriam com o cheiro insuportável da fumaça de charutos e até cachimbos. Com os borrões e rabiscos que os seus autores impacientes faziam em suas páginas, até chegar as palavras certas. Outros me contaram que pior do que isso, eram as noites de insônia dos seus autores e o cheiro do cigarro. Eles me disseram que chegavam a passar mal diante daquela situação. Outros me disseram que os seus autores viviam com copos e mais copos de uma bebida chamada uísque.
Eu pelo menos, não passei por estes dissabores, até porque o meu autor detesta tanto o cigarro como o cheiro da fumaça que ele faz. É incrível mas, o pai do meu autor fumava cachimbo, e ele me contava que o cheiro era maravilhoso, como é que pode, né? Não cheguei a conhecer o pai do meu autor, mas dizem que era um excelente jornalista.
Bem, mas voltando ao assunto, o pior é que passei por momentos de agonia com o meu autor. Sabe porquê? Porque quando ele estava com insônia e escrevia algumas crônicas ele sentava na frente do seu computador, e colocava do lado, um copo de refrigerante e um prato cheio de biscoitos de recheio. Nossa! Como eu ficava com desejo que ele me oferecesse um biscoitinho. O recheio era sempre o mesmo, de chocolate. Mas depois, me lembrava que não havia jeito de experimentar ou saborear aqueles biscoitos, afinal, eu estava dentro de uma máquina, não é mesmo? A única coisa que sabia era o tamanho das palavras: biscoito, com oito letras; chocolate, com 9 letras; e refrigerante, com 12 letras.
Mas o momento mais emocionante para mim foi quando eu e meu autor ficamos sob a luz dos refletores, em minha noite de autógrafos, quer dizer, desculpe! Nossa noite de autógrafos.
Nossa! Quanta gente, naquela noite. Vi tantas pessoas, tantos nomes importantes! Outros nem tanto. Mas o meu autor me autografava todo prosa, e me mostrava todo orgulhoso para os seus amigos.
Foram tantos autógrafos, que cheguei a ficar com pena dele, imaginando e sentindo o que ele sentia, e o cansaço das suas mãos em colocar o nome daquelas pessoas em minhas páginas.
Mas, a festa acabou, apagaram-se as luzes da festa, meus irmãos se foram e eu, vim parar aqui, na estante de uma biblioteca pública.
Que solidão!

O escritor pianista




O escritor pianista

Paulo de Almeida Ourives

Todos nós temos vícios, afinal, quem é que não tem um vício. Tem pessoas que tem o vício do cigarro, da bebida, do fumo, das drogas, mas há também aqueles que possuem vícios comuns, pequenos, mas que não chegam a incomodar, o meu por exemplo é o de ler e escrever, principalmente o último. Adoro escrever! Fico nervoso só de ver os meus dedos imóveis e longe de um teclado. Tenho de escrever! Não consigo me imaginar, um estudante de comunicação (jornalismo), que não goste de escrever.
Quando tive o meu contato com a redação e pude expressar tudo aquilo que pensava ou, escrever sobre temas já propostos, ficava às vezes sem a mínima idéia de como começar a escrever, mas quando pegava o fio da meada, na maioria das vezes, os professores chamavam a minha atenção por escrever demais.
Sei que ainda sou um estudante de comunicação, com a pretensão de formar-me em jornalismo, e não vejo a hora de começar a ter o meu contato com a matéria que mais gosto, redação. Se pudesse, já estaria em outra sala de um período mais adiantado só para assistir as aulas sobre as técnicas de redação. Mas, como ainda tenho de esperar, vou escrevendo por aqui mesmo.
Este meu vício de escrever às vezes faz com que eu me sinta um Carlos Drummond de Andrade, ou, quando estou em pleno gozo, transbordando de inspiração e sentimentos sinto-me como um pianista, diante de um público a tocar as mais belas melodias em seu piano. Portanto, às vezes sinto que sou um Mozart das letras.
Mas porque Mozart? Talvez pelo virtuosismo de suas composições que nos embalam em melodias maravilhosas, e nos fazem sonhar.
Assim, quando estou inspirado, fecho os meus olhos pois a minha sensibilidade me diz quais são as teclas que devo bater para transformar tudo isso em texto.
Fecho os olhos e parece que vejo as pequenas gotículas de letras jorrando de meu cérebro, formando uma imensa catarata de letras e palavras sem fim. As pequenas gotículas de letras caem e a partir de um dado momento, vão tomando o seu rumo para os meus braços esquerdo e direito, passam pelo comprimento deles, carregadas pelas minhas células nervosas até chegar em minhas mãos, daí então se dissipando para cada um dos meus cinco dedos de cada mão, conforme a posição das letras no teclado.
Enquanto o pianista, tem a sua frente sete notas musicais, dispostas nas 81 teclas de um piano, colocadas em linha reta, eu, tenho a minha frente 101 ou 102 teclas para serem utilizadas e transmitir em apenas 50 teclas tudo aquilo que penso.
Mas é bem verdade que ambos, pianista e escritor passamos por um período de aprendizado até conhecermos bem a disposição dos nossos teclados. E é por isso que muitas vezes me sinto como um pianista.
Quando a inspiração e o sentimento transbordam em mim, sinto-me como se fosse um Strauss, Stravinsky, Tchaikovsky, Grieg, Bach, Verdi, Rossini, Beethoven e Mozart. Ou, como na música pop, os pianistas cegos, Ray Charles, Stevie Wonder; além de Jerry Lee Lewis, Elton John, Phill Collins ou o gigante Arthur Moreyra Lima, curvado diante de um piano.
Se meu teclado pudesse soar alguma melodia, e estivesse diante de uma platéia gostaria imensamente de dedilhar “O Guarani”, de Carlos Gomes, e certamente, todo o meu sentimento e a minha emoção iriam transbordar pelos meus poros em forma de suor, e dos meus olhos sairiam lágrimas que misturadas ao suor não seriam percebidas pelo público. Seria um gozo frenético, um êxtase de tocar uma das mais belas melodias brasileiras. E apesar de estar sentado, dançaria em minha cadeira como um Ray Charles ou Stevie Wonder.
É bem verdade que os meus dedos são normais e pequenos se comparados ao do pianista Arthur Moreyra Lima, que com seus longos braços proporcionais ao seu tamanho, parece um gigante diante de um piano de cauda. Eu portanto, também sou um gigante diante de meu pequeno teclado.
Nem sei, se o Arthur conseguiria dedilhar no meu teclado, porque eu também não sei se conseguiria digitar em seu piano.
E em meio a tanto virtuosismo, e tanta emoção terminaria como todo pianista ...
que digita todas as teclas, as as as as as as
e eu dedilho as minhas teclas as as as as as as
asdf jklç asdf jklç
e como um baterista que usa o prato
bateria com
o meu
dedo
sobre o
enter
asdf jklç
asdf jklç
...
clap! clap! clap! clap! clap! clap! clap!
Fiuuuuuuuuuuuuuiiiiiiiiii! Fiuuuuuuuuuuuuuiiiiiiiii!
Mais um! Mais um!
Parou porquê? Porque parou?
Parou porquê? Porque parou?
E a cortina
desce com o
aplauso do
público.

O elevador



O elevador

Paulo de Almeida Ourives

De vez em quando por força das circunstâncias somos obrigados a sermos um pouco moleques e tirar um sarro da cara de algumas pessoas, mesmo que elas sejam desconhecidas, só com o objetivo de ver as reações de cada um. O que seria um ótimo teste para quem estuda ou quer fazer da Psicologia a sua profissão, o que não é o meu caso.
Mas um dia, lá em Vitória, aconteceu um fato corriqueiro e banal, para qualquer cidadão, mas diante da situação não perdi tempo, até porque estava tão tranqüilo que fiz aquilo só de maldade, para sentir a reação dos outros passageiros daquele elevador.
Quando fui morar em Vila Velha, e de vez em quando ía dar um passeio ou resolver alguma coisa em Vitória, eu custei a entender a dificuldade de se conseguir uma informação a respeito de um local ou uma repartição pública ou privada com um cidadão capixaba. Tudo porque o capixaba só conhecia as repartições e a sua localização pelo nome dos edifícios, e eu não conseguia assimilar aquilo, afinal de contas eu tinha ido do Estado do Rio de Janeiro para lá, e por aqui, seja em que lugar for, as pessoas conseguem distinguir os locais públicos ou as empresas pelo endereço, ou seja, pelo nome das ruas, avenidas, praças, etc.
Mas lá no Espírito Santo era diferente, era por nome de edifícios. E quanta dificuldade para encontrar os tais prédios, pois se eu dissesse que não sabia como chegar ao meu destino e perguntasse, a resposta era uma quantidade enorme de entra-aqui-sai-ali, dobra à direita, depois à esquerda, segue em frente, depois volta, que eu me via como um cego perdido no meio de um tiroteio, e não conseguia chegar ao meu destino. Só com muita paciência é que acabei por aprender e conhecer os nomes dos principais edifícios do centro de Vitória, e alguns que ficavam em bairros distantes.
E assim um dia, estava em um prédio, onde o elevador era sinistro (esquisito), pois dependendo do andar em que o cidadão ía, na descida era um tal de escutar o ranger do cabo de aço, e clangh, crunch, creech, e rebola e sacode que quem entrava naquele edifício e pegava aquele elevador, acreditava que o mesmo ia cair a qualquer hora, principalmente porque na descida ele acelerava e freava inesperadamente em meio a tanto rebola e sacode e aos barulhos que ele fazia. Parecia cena de filme de terror, como por exemplo “A hora do pânico” ou, “Pânico no elevador”.
Eu que sempre fui muito calmo, na primeira vez que andei naquele elevador, confesso que fiquei assustado mas, com o passar do tempo, sabendo que ele não caía de jeito nenhum, me acostumei com ele.
Até que um belo dia, eu fui obrigado a ir naquele edifício, que não consigo lembrar o nome. Para subir era uma maravilha, parecia que estávamos flutuando em alguma nuvem, pois ele não fazia nenhum barulho, e nem rebolava ou sacudia, quanto aos solavancos e barulhos eles não existiam, somente na descida.
Vale lembrar que aquele elevador também tinha um detalhe curioso e talvez fosse isso que mais amedrontava as pessoas, o fato dele ser pequeno, caber apenas 4 pessoas, e o fator peso era de aproximadamente 140 quilos para cada pessoa, a partir daí, a empresa responsável pelo elevador não garantiria o serviço de qualidade.
Portanto, um belo dia me vi na obrigação de subir até o último andar. Na hora de descer o elevador parou no andar debaixo e entraram três pessoas, um homem de quase um metro e noventa centímetros de altura e duas mulheres (mãe e filha), só que a mãe tinha mais ou menos um metro sessenta e era bem gordinha.
Enfim, havia três pesos pesados proporcionais aos seus tamanhos, o homem que estava posicionado a minha direita, a mulher gordinha bem na minha frente e eu, que tinha os botões de controle dos andares à minha esquerda. Fechada a porta, começou então o nosso suplício em meio as turbulências do elevador, pois foi um tal de sacode, rebola, clangh, cruuuuunch, creeeeech, que as mulheres começaram a ficar nervosas e me perguntaram se o elevador era confiável. Respondi-lhes (muito moleque e cinicamente), que não, pois ele era danado para parar fora do nível, isso quando não cismava em parar no meio do caminho e deixar muita gente presa. Dito isso, as duas começaram a ficar angustiadas, principalmente porque estávamos justamente em meio a turbulência daquele sacode, rebola, clangh, cruuuuunch, creeeeech.
Internamente eu estava satisfeito, pois afinal havia conseguido o meu intento, via as duas mulheres completamente nervosas e angustiadas, quanto ao homem eu nem olhava para ele direito, pois ele estava a minha direita e parecia que transpirava muito. Mas eis que, comecei a colocar em meu semblante um ar preocupado, e os meus olhos começaram a viajar entre a plaqueta que indicava o andar onde estávamos, e a pequena placa que ficava no fundo do elevador a nos avisar que a capacidade permitida era de apenas quatro passageiros ou 560 quilos. A partir daí a empresa responsável pela manutenção não garantia a boa qualidade do serviço.
Quase três minutos depois, ou quatro andares para baixo, em uma descida lenta, cheia de sacode, rebola e muitos barulhos, a mulher gordinha começou a perceber a minha preocupação, e muito nervosa perguntou-me porque eu olhava tanto para aquela plaquinha que estava no fundo do elevador e para nós todos ali naquele minúsculo espaço físico.
Foi aí, que para aumentar o desespero dela, eu disse que estava pesando uns 120 quilos (aumentei apenas 10 quilos em relação ao meu peso na época), a mulher começou a ficar agoniada porque de imediato fez as contas e olhou criminosamente para aquele homenzarrão que estava ao meu lado, muito mais alto e muito mais barrigudo do que eu.
Para minha sorte e felicidade da mulher, o elevador saiu da turbulência e desceu vertiginosamente em uma velocidade mais rápida do que o normal, mas isso já não era tão relevante, o fato é que ela desejava sair daquele elevador o quanto antes.
Quando a porta do elevador abriu no térreo, a gordinha saiu tão rápido que a impressão que tive foi a de que ela havia arrombado ou derrubado a porta do elevador, passando desse jeito por cima de quem estivesse na frente dela. Eu também saí rápido, até porque possivelmente o homenzarrão que estava bem ao meu lado estivesse com vontade de me pegar para que eu explicasse a minha molecagem, mas fui tão rápido que saí do prédio e depois de uns 10 minutos, em um bar bem longe dali, é que morri de rir, da cena e da cara daqueles passageiros do “elevador assustador”.

O relógio do "Seu Candinho"




O relógio do “Seu Candinho”

Paulo de Almeida Ourives

Era cedo e corri à padaria para comprar o pão nosso de cada dia, enquanto a água estava esquentando no fogo para preparar um delicioso café, na pressa em que estava acabei passando por senhor de idade que também entrava na padaria, mas como havia outras à minha frente no balcão não fui atendido de imediato, quando então a balconista fez menção de atender-me, ouvi uma voz por trás de mim – o tal senhor – a pedir dois pães pois estava atrasado para ir ao médico, e ante ao desejo da balconista em querer saber quantos pães eu levaria disse-lhe que primeiro atendesse ao tal senhor afinal, por uma questão de direito os idosos têm a preferência, mesmo porque uns minutos a mais para mim não teria tanta importância.
A balconista prontamente atendeu-o, e posteriormente à mim, mas antes de encaminhar-se ao caixa o dito senhor agradeceu-me à gentileza. Ao ser atendido fui para o caixa e encontro-o a meio caminho, mas como ele ainda parou à olhar alguns quitutes sobre o balcão cheguei ao caixa primeiro, como percebi que novamente ele estava atrás de mim, dei-lhe permissão para que fosse atendido primeiro, afinal em hora marcada com médico não se deve chegar atrasado, ele então agradeceu-me novamente e foi embora.
Passados uns dias encontrei-o, mas desta vez ele já havia sido atendido e esperou para contar-me o que havia lhe sucedido. Contou-me que chegou duas horas mais cedo do que o médico e o horário previamente marcado.
Completando à narrativa, e estando na calçada em frente à padaria disse-me que o neto havia brincado com o relógio e o havia arrebentado, inclusive não contando para os avós sobre a arte praticada, além disso a dona Esmeralda (sua esposa), preocupada com um possível atraso, havia adiantado o relógio só um pouquinho sem falar-lhe absolutamente nada.
Lamentei o ocorrido, e ele também lamentou-se afinal o relógio, segundo ele, era uma porcaria. Aproveitou então para contar-me sobre um certo relógio que havia comprado há muitas décadas, quando ainda era muito moço e trabalhava como caixeiro-viajante, e na primeira comissão que recebera resolveu comprar um relógio apenas por vaidade, pois como viajava muito e à cavalo, já estava um tanto quanto acostumado a ver as horas apenas pelo ângulo da sombra sobre as árvores em relação ao sol. E, uma certa feita, estava a viajar quando de repente o cavalo começou a pender para a direita, inclusive dando uns pinotes, e ele acabou indo ao chão dentro de uma poça d’água, a mala onde carregava as mercadorias abriu e esparramou todo o seu conteúdo, ele já aborrecido e molhado por aquele banho inesperado, conseguiu pegar o animal e levou-o para um local mais adiante, prendendo-o em uma árvore, voltando em seguida para colocar tudo novamente na mala, ficar mais um tempo sobre o sol, para secar a roupa que estava vestindo e parte das mercadorias que havia caído na poça, e então seguir a sua viagem.
“Quando estava chegando em um lugarejo, resolvi bombeá as horas e só então percebi que havia perdido o relógio. Cheguei a pensar que tinha sido no hotel onde normalmente me hospedava e pensei que decerto o velho Juvêncio deve tê-lo encontrado e guardado.
Passou-se muito tempo, uns três anos talvez, entre idas e vindas, de um lado a outro, quando estava novamente passando já de volta por aquela mesma estrada e o cavalo como que assustado se negava de um lado, olhei em volta e a princípio não vi nada, mas como o cavalo continuava arredio, resolvi amarrá-lo em uma árvore e olhar com mais calma por sobre um um barro que estava duro devido à seca, até que de repente em meio ao silêncio daquele lugar pude ouvir um barulho. Intrigado, agachei-me e fiquei a escutar, até que comecei a escutar tic, tac..., tic, tac..., tic, tac..., tic, tac..., tirei a roupa e mergulhei no que ainda restava da lagoa e, pude ver o meu relógio lá no fundo e ele fazia tic, tac..., tic, tac..., tic, tac..., tic, tac...
Sinceramente, relógio como aquele já não se fabrica mais, mas também era de um aço bárbaro.”
Após a narrativa despedimo-nos um do outro e o dito senhor então perguntou-me o nome, respondi-lhe e ele também se apresentou, Senhor Cândido mas eu poderia chamá-lo de Seu Candinho.

Com certeza...



Com certeza, de quê?

Paulo de Almeida Ourives

Numa era de incertezas, crises monetárias, econômicas e políticas, eis que surge um jargão que parece ter caído no gosto popular. Principalmente, na boca de locutores que ao que parece jamais estudaram tão profundamente a língua portuguesa. Nada mais chato, do que ouvir um sem número de vezes a expressão “com certeza”. É “com certeza” para cá, é “com certeza” para lá, e ao que parece quem o diz, não percebe que tanta “certeza” é sinal de incerteza. Enfim, é um “saco”, e parodiando um professor, “diria que isso é fruto de uma pobreza de vocabulário.
Em uma emissora de rádio FM de Campos, há uma locutora que deveria mudar de nome, e passar a se chamar Locutora “Com Certeza!”. Pelo visto ela deve ser uma daquelas modelinhos bem bonitinhas mas burrinhas, como a Manoela que apareceu em um Big Brother recente, ou quem sabe, talvez seja uma daquelas bonequinhas de brinquedo que quando se aperta a barriguinha ao invés de falar “Ma-mãe”, ela fala “com certeza!”. Às vezes me vejo tentado a fazer sabe o quê? O de cronometrar o tempo, e contar quantas vezes ela fala “com certeza” por minuto.
Ora, matematicamente é fácil fazer essa conjectura, afinal se ela consegue pronunciar seis frases por minuto, e em cada frase ela usa a expressão “com certeza”, no início, meio e final de cada frase, chegamos a contar 18 vezes a expressão “com certeza”, é lógico que em alguns momentos ela consegue ir mais além e pronuncia a expressão “com certeza”, além da conta, e chegamos a 20 vezes a expressão “com certeza”, por minuto.
Multiplicando as 20 vezes por minuto por 10 minutos de programa, ela consegue alcançar a marca de 200 vezes a pronúncia dessa expressão. E se multiplicarmos essa quantia (200) por seis, concluiremos que em uma hora ela pronuncia a expressão “com certeza”, 1.200 vezes.
Sendo ela, locutora de rádio com um programa de seis horas, mas cuja metade do programa é de música, podemos afirmar que, multiplicando as 1.200 vezes em que ela fala a expressão “com certeza” em uma hora, por três horas, chegaremos a expressiva quantidade de 3.600 vezes a pronúncia da expressão “com certeza”.
Essa expressão pronunciada inúmeras vezes no rádio, e que já está na boca do povo, pode ser considerada como um “estupro” aos ouvidos de quem ouve àquela emissora. É nessas horas que como repórter gostaria de ouvir a palavra de um filólogo de renome, quem sabe o falecido Aurélio Buarque de Hollanda, para saber dele, o que ele acha da expressão “com certeza”? Confesso que já imagino a resposta que ele me daria, ou seria com uma outra expressão rápida, pequena, grossa e rasteira como “é uma m...”, ou usaria de palavras rebuscadas como um autêntico Ruy Barbosa, para responder, e eu me veria na triste situação de procurar um dicionário para traduzir as palavras que em outras coisas significa que ele resolveu dizer que a locutora tem pobreza de vocabulário.
Mas se vocês pensam que as coisas param por aí, enganaram-se, infelizmente a expressão “com certeza”, consegue bater todos os recordes do chatismo. Então eu pergunto: “Para quê estudar a língua portuguesa, se alguns locutores de rádio e porque não dizer, artistas também, conseguem assassinar a língua que usamos para escrever, falar e nos comunicar com o mundo?”.
Uma pessoa chegou a afirmar que o brasileiro é um poliglota, porque a língua portuguesa possui tantos dialetos e expressões diferentes para a mesma coisa, que quando um cidadão viaja para outro estado brasileiro, acredita que está na verdade em outro país completamente diferente. Como o Brasil, país em que vivemos possui 26 estados e cada qual o seu dialeto, teremos um total de 27 maneiras diferentes de falar e nos comunicar (uma língua e 26 dialetos). Mas, como a língua coloquial é diferente da língua culta, chegaríamos a 28 modos de pronunciar a língua portuguesa. Vocês acham que é só? Não, porque ainda não falei das diversas tribos, como os rockeiros, skatistas, surfistas, punkeiros e outras tribos que já não lembro mais. E certamente chegaríamos a 30 e talvez umas 40 maneiras de falar a língua portuguesa. Exagero? De modo nenhum.
A poucos anos atrás quando a expressão “a gente”, estava na moda, e acredito que foi a segunda expressão a encher a paciência de muita gente. Ouvi uma entrevista de um cantor de rock popular, de um grupo famoso (não lembro mais o nome dele, nem o do grupo), na Rádio CBN, e fiquei pasmo de ouvi-lo pronunciar a expressão “a gente”, inúmeras vezes. Ele conseguiu a proeza de pronunciar essa expressão substituindo-a pelas seis pessoas do pronome pessoal reto, eu, tu (você), ele, nós, vós (vocês) e eles. E continuo com a mesma indagação acima, “para quê estudar a língua portuguesa, se um monte de imbecis conseguem assassinar a língua que usamos para escrever, falar e nos comunicar com o mundo?”.
Não quero extenuá-los, ou dar uma de “Visconde de Sabugosa Pós-Moderno da Língua Portuguesa”, porque para isso já temos um professor que é um catedrático no assunto e aparece diariamente na TVE, e nos domingos no jornal O Globo, o Professor Pasquale Cipro Neto. Mas gostaria apenas de fazê-los refletir um pouco mais, principalmente na hora de falar alguma coisa, e não serem tão “pó-bres”, culturalmente.
Mas, como a cada ano as coisas vão ficando pior do que já estão, é lógico que algumas expressões já entraram, foram pronunciadas e aos poucos vão ficando esquecidas pela maioria da população. Como por exemplo, o “por exemplo”, que morreu laconicamente de tédio por ter sido substituído por um “tipo assim”. Fora outras expressões como, “é ruim hein!”, “nem brincando”, “não é brinquedo, não!”, “só no sapatinho”, e por aí vai.
Agora, se houve uma expressão que acredito foi assassinada por ter sido pronunciada fora de hora, esta foi o “positivo”. Quem não se lembra do programa Cidade Alerta, da TV Record, que era apresentado pelo Luis Datena? Em algumas reportagens policiais, o repórter ao ouvir a pronúncia do policial militar, ou do delegado escutava um sonoro “positivo!”.
Vamos fazer uma brincadeira?!
Que tal se nós tivéssemos criado a máquina do tempo em nossas mentes e pudéssemos ver uma reportagem que chocou o país, como a “chacina de Vigário Geral”.
Imaginem que em frente à casa dos chacinados há um camburão da PM, e o repórter ou a repórter como queiram, chega no local, sai do carro da TV em desabalada carreira com um microfone em punho na direção do policial, e o cinegrafista correndo também, mas atrás da repórter e, do lado oposto um PM fardado, aprumando o bigode e pensando:
- “Oba, uma repórter de TV, que legal, vou aparecer na TV, o meu filho irá me ver, vou ser artista de TV”.
A repórter então, chega esbaforida, quase sem voz, e pergunta de sopetão: “o que aconteceu aqui?”, e o nosso herói então responde também de sopetão, tão rápido que nem pensa ou reflete sobre a pergunta e solta um “Positivo!”, e lá se vai por terra qualquer expressão de sentimento ou de comoção sobre o que aconteceu. “Positivo” de quê? Será que uma chacina é algo assim, tão positivo?
E tenho certeza absoluta que ainda aparecerá alguém para responder, “com certeza!”.
Mas, com certeza, de quê?

Maria

Maria
Paulo de Almeida Ourives

Estou cansado! Já não agüento mais o corre-corre do dia-a-dia, são tantos problemas aqui e ali, que me sinto enfraquecido. Preciso respirar! Necessito de umas férias, sair, viajar, ver outro lugar.
Ver pessoas e lugares diferentes.
Preciso sair daqui, conviver e viver a vida, fazer algo diferente, conhecer outras cidades, outros países.
Já sei, vou viajar de avião!
Nunca voei, esta será a primeira vez!
Decidido vou para Lisboa, conhecer Portugal.
...
Já estou chegando em Lisboa, capital portuguesa, e mesmo no avião já sinto o seu cheiro, seu perfume, ouço acordes de um fado, me vejo saboreando um bacalhau.
Ah, Lisboa! Tuas ruas, escadarias, becos e vielas.
Restaurantes, cafés, livrarias.
Já não sei quem sou.
Onde estou?
Me perco, andando pelas ruas portuguesas, vejo muitos rostos diferentes, sotaques de um linguajar da língua nascente.
Vejo o poente no Tejo, o trem que cruza o país, veículos coletivos circulando aqui e ali, e a noite chegando.
A fome aumentando,
andei caminhando
sem parar.
Agora procuro um lugar para me alimentar,
me embriagar
com um bom vinho tinto do Porto.
Em algum lugar,
sentar e ouvir as pessoas conversando,
e outras se embriagando,
cantando um fado.
Volto para o hotel, me jogo na cama cansado, apago.
Abro os olhos então, e vejo outro dia.
Lembro do que fiz quando cheguei,
procuro o gerente, me informo e tomo um trem para Coimbra e Cascais.
Volto no fim do dia, e sem nenhuma rotina, me embriago no cais.
Como sardinha, tomo uma cerveja escura, como todo bom português.
E assim, à noitinha, volto para o hotel do mesmo jeito,
cansado, fatigado,
me jogo na cama, ainda calçado,
durmo e não vejo nada mais.
No outro dia, resoluto, resolvo conhecer os quintais.
Vou para Leiria, e é lá que me perco, nas vielas e escadarias.
Conheço Maria, jovem lusitana,
de tez morena, que me mostra a beleza da cidade.
Ao lado dela, o tempo passa, me perco nas horas, mas já não me importo.
No restaurante, jantamos um bacalhau a moda do Porto, com vinho tipicamente português.
E é nos braços de Maria, que me embriago de novo,
os teus beijos e o teu abraço gostoso me enchem de alvoroço
e no meio da noite, saímos rua afora, rumo ao mundo.
No alto as estrelas nos conduzem para algum canto,
e ao longe escuto o canto,
do mais nobre lusitano.
Acompanhado de uma viola,
fazendo uma serenata,
para uma jovem rapariga,
a pedido de um jovem mancebo,
enamorado da bela rapariga.
E eu ali, no meu canto
nos braços de Maria
ouvindo aquele acalanto
vou me embriagando
de amores, com aquela jovem rapariga.
No dia seguinte, acordo,
já não vejo Maria,
ela se foi.
Me deixou só,
naquela cama vazia.
Meu corpo ainda suado,
e o lençol ainda molhado,
da noite maravilhosa de orgia,
que maravilha!
Saio do hotel, ando pelas ruas e me perco.
Já não sei quem sou
ou, onde estou.
Ando sem saber para onde ir,
Entro em ruas, subo escadarias,
pego um bonde, não sei para onde,
só sei que preciso ir a algum lugar.
Quero voltar a ver Maria,
e dizer o bem que ela me fez,
me embriagando em seus braços
naquela noite de magia.
Volto para Lisboa,
os dias passam,
volta a tristeza
de não ver Maria,
e a certeza de que a chave de meu coração
deixei em Leiria,
nas mãos de Maria.
De Lisboa volto para o Brasil,
mas já não sou mais o mesmo,
meu olhar perdido,
ainda continua triste,
e em minha retina só vejo Leiria e Maria.
Seu sorriso doce, sua voz macia,
seu sotaque gostoso,
seus braços, seus olhos,
que maravilha, Maria.
E na minha tristeza,
no meu semblante,
só sei que perdi para sempre
a chave de meu coração,
e o que me aquece,
é que ela está
para sempre
com Maria.

Escrevo, brinco com as letras e as palavras, não sei se isso por si só me dão a certeza de que sou um escritor. Escrevo por vício, nunca fiz poesia, mas a minha sensibilidade me faz acreditar que sei fazer rimas em uma poesia, mas já não sei se sou um escritor, ou um poeta.

Conversa


Conversa

Paulo de Almeida Ourives

- Com certeza!
- Cara, com certeza!
- Manero, né?
- Com certeza!
- Como conseguiu?
- Sei não.
- Show.
- Só.
- E aí?
- Não sei.
- Tem mais?
- Sei lá.
- Quero.
- Cabô.
- Pô!
- Liga não.
- Mas...
- Xa pra lá!
- Magoou!
- Hein?!
- Viajei!
- Viajô?
- É viajei!
- Sai fora!
- Pô!
- Só fiz isso!
- Só?!
- Esse cara!?
- Pô, cara!
- Pô, digo eu!
- Caô?
- Caô, sim!
- Fui!
- Vai!
- Té!
- Té!

E aí, vocês entenderam esse diálogo? Não!
Nem eu.

Sem comentários...

Acho que ninguém é capaz de imaginar o que se passava naquele olhar. Parado, perdido no tempo e no espaço. Mas era o olhar de uma criança, no quintal de sua casa, cujo portão de grade, estava fechado.
Engarrafamento naquela avenida, em horário de saída de alunos dos colégios, e aquela criança ali, parada, estática, no lado de dentro do portão, olhando para o nada, para o vazio. De repente, me vi dentro dos seus olhos, dentro do seu "eu", para compreender o que estava acontecendo, e até onde poderia ir, olhando aquele olhar.
É uma viagem, mas é simplesmente uma "viagem" sem igual, que de vez em quando faço, e sumo de mim.

O olhar de uma criança


O olhar de uma criança

Paulo de Almeida Ourives

Era uma tarde qualquer de um dia de semana. Voltava para casa, como tantas outras pessoas, depois de um longo dia de trabalho. Ônibus lotado, a avenida em que me encontrava estava repleta de veículos parados, motoristas impacientes, apertavam insistentemente as mãos e os dedos contra a buzina, como se isso fosse adiantar alguma coisa. O trânsito parado não fluía, e a medida que o ônibus andava um pouquinho que fosse, por alguns poucos metros, podia perceber pela janela que o trânsito ali estava completamente congestionado. Era difícil de imaginar o que havia acontecido, mas isso já não importava muito, pois mais alguns minutos e eu estaria em casa.
De repente, em meio aquele turbilhão de buzinas estridentes, pessoas reclamando da demora, gente falando alto, outros assobiando em algum banco lá atrás. Havia também uns fanáticos dentro do ônibus fazendo suas orações e pregações da Bíblia em voz alta, como se isso fosse adiantar alguma coisa, lembrei de algumas palavras da Bíblia, onde Jesus chamou de fariseus, aqueles que faziam orações e pregações em locais públicos somente para chamar a atenção de quem quer que passasse perto deles.
Mas, ali, naquele portão, vi uma criança, com um olhar perdido diante de um mundo desumano. Seu olhar, parado no tempo e no espaço, me dizia que seus pensamentos estavam muito, muito longe dali. Não sei, se naquele semblante havia um profundo pesar de tristeza, por estar ali, atrás daquele portão a ver um sem número de carros parados, buzinando, fazendo o maior estardalhaço sem sair do lugar, ou seria a tristeza de estar ali, presa atrás do portão, sozinha sem ter com quem brincar?
Comecei então a fazer mil conjecturas sobre aquele olhar que não me via. E procurei descobrir para onde olhava aquela criança, parada ali atrás daquele portão. Me transportei então para junto dela, a tentar enxergar o mundo que ela via, milhares de pessoas naquele momento indo para aquela direção passando ali, na porta da casa onde ela morava, para onde iam? Para suas casas? Para o trabalho? Iam viajar? Aquela criança fazia mil perguntas, mas não encontrava respostas.
Era apenas um olhar vazio, distante, numa profunda reflexão ou, numa viagem distante dos seus olhos e da sua mente.
Tentava, e procurava entender aquele olhar, parado no tempo, e também eu, não conseguia entender ou achar o local para onde eles olhavam, ou aonde eles estavam. Mas sei, que aquela criança ali, com seus quase seis para sete anos, estava a olhar profundamente para o mundo.
Foram poucos minutos, nem sei direito quanto tempo, e quando o ônibus então resolveu andar um pouco mais, percebi naquele peito um profundo suspiro, de quem estava voltando daquela longa viagem, pelo mundo dos seus pensamentos, voltava portanto a si, e para o mundo que a rodeava, eis então que aquela criança girou sobre os calcanhares, virou-se para dentro de casa e entrou.
O ônibus já estava andando, o sinal estava aberto, e eu fiquei olhando aquela criança entrando em sua casa, talvez para tomar um banho, jantar e ir dormir, ter uma boa noite de sono, e sonhar. Mas o seu olhar, longe, distante, no mundo, eu vi, e nunca esqueci.

Papo de criança

Há pessoas que já disseram que sou uma criança grande. Bem, a verdade, é que tive uma infância feliz, me contentava com tudo, e não reclamava de nada. Sempre fui um garoto comportado, observador, obediente, e respeitava os meus pais, e as pessoas que conviviam com eles. E agora, abro esse espaço, para fazer uma homenagem as crianças. Crianças que já me deixaram de queixo caído com frases de efeito tão bem elaboradas, que nem eu mesmo acreditei que pudesse estar ouvindo aquilo de um garotinho (por favor, a palavra não tem duplo sentido, é "garotinho" significando criança, tá?).
E o que dizer dos garotos que narravam uma batida ou atropelamento... Só de lembrar choro de rir do susto que levei.
Mas ainda tem mais.

Essas crianças...


Essas crianças...

Paulo de Almeida Ourives

Existem momentos na vida da gente, que passamos por tantas situações que algumas delas ficam gravadas em nossa memória. Sempre ouvi dizer que o brasileiro, não possui memória, mas não é só o brasileiro em todo o mundo, as dificuldades financeiras, o desemprego, os problemas domésticos, etc. fazem com que as pessoas vivam o dia-a-dia de forma cada vez mais competitiva e isso acaba gerando um stress emocional tão grande que quando as pessoas vão para as suas camas dormir, elas acabam passando uma borracha em tudo o que viram ou que presenciaram naquele dia. Mesmo que no dia seguinte, a rotina seja a mesma, vejam as mesmas pessoas em ônibus, trens, metrô, nas ruas, no trabalho, nos restaurantes ou fast-foods, não importa, ninguém consegue se lembrar do que aconteceu no dia anterior, mesmo que haja um fato completamente estranho a rotina. Ninguém consegue guardar na memória, vive o fato, e acaba apagando da memória, como se fosse mais um daqueles inúmeros papeizinhos de propaganda que recebemos no meio da calçada.
Comigo acontece justamente o oposto, tudo o que me acontece, é guardado em minha memória computadorizada, meu computador pessoal é mais rápido e o winchester que possuo abriga cada vez mais informações e imagens audiovisuais que nem mesmo o melhor dos computadores (máquinas) que aí estão no mercado, conseguem guardar. Estou falando da minha memória, essa caixinha cinzenta que fica em meu cérebro.
O que estou dizendo é uma pura verdade, tanto que posso provar, algumas dessas crônicas, estão guardadas em minha memória por quase 30 anos. Isso mesmo, quase 30 anos, como por exemplo, “Um Natal marcante”, ou, “Uma partida de futebol”, entre as diversas crônicas deste livro. Outras crônicas são guardadas por momentos ou até mesmo horas depois em que crio o texto em meio a uma caminhada. Retenho elas na memória, e depois de algum tempo sento aqui em frente ao computador e datilografo, ou melhor digito, a mesma no meu computador. E que agora vocês tem a oportunidade de ler. Quando estiverem lendo, já terá se passado muito tempo entre o dia em que escrevi e o dia que vocês estão lendo.
Mas um dos momentos mais hilários que aconteceu comigo, em Vila Velha, eu reescrevo aqui, e tenho certeza que se vocês estivessem vivendo o momento que vivi, também iriam se assustar. Esta crônica foi publicada em uma das últimas edições da revista Momento no Espírito Santo e o seu texto é o seguinte:
“Outro dia, estava deitado fazendo a sesta como de costume, e, fui acordado com crianças à gritar assim:
- Não! Não vai não!
- Ai! Vai atropelar!
- Espera!
- Ai! Vai morrer!
- Não! Não atravessa, não!
Assustado, e naqueles poucos segundos em que me levantava até a chegada na janela da sala foram mil pensamentos, e a consternação – alguém ía atravessar a rua, foi atropelado e morreu – meu coração já estava para lá de mil batimentos por minuto e meu cérebro já imaginando o pior, pensei por quê não colocar um semáforo na esquina ou, quem sabe um quebra-mola para reduzir o ímpeto dos motoristas na avenida (Santa Leopoldina, em Coqueiral de Itaparica, Vila Velha, ES), que, com um retão destes ficam à imaginar que estão em alguma pista de Fórmula Um.
Bem, quando cheguei na sala e abri a janela, meus olhos não acreditavam no que viam, na avenida reinava a mais santa paz, sim, porque não havia aquele corre-corre característico de quem assiste a um atropelamento, então indaguei-me, será que era um sonho ou um pesadelo? Não, não era um sonho, muito menos um pesadelo, era real, pois logo a minha atenção foi despertada por um grito:
- Ai! Vai atropelar!
Para minha surpresa, olho bem para baixo, e vejo um grupo de crianças acocoradas sobre a grama do condomínio. Eram três garotos e uma menina, a maioria dos gritos partia dela, então pude perceber que se tratava apenas e tão somente de uma pequena experiência, tendo como protagonista uma lagarta que, deveria ou não, passar por cima de outro inseto, possivelmente uma formiga.
A minha primeira reação foi de raiva, claro, afinal de contas com toda aquela gritaria, só podia imaginar o pior. Depois, já refeito do susto e, um tanto bronqueado com as crianças, voltei para o meu quarto, para mais alguns minutos de descanso e, sinceramente, caí na gargalhada com a peça que as crianças me pregaram.
Depois lembrei-me do Pedro Bloch que era autor de umas crônicas na revista “Pais e Filhos” e, versava apenas sobre a gravidez, a saúde do bebê, além de lições sobre psicologia infantil, recordo que o título principal da página em questão era “Criança diz cada uma...”. À bem da verdade, cheguei a ler algumas crônicas, quando na oportunidade trabalhava em Campos em uma loja de revistas e jornais, mas cheguei mesmo a duvidar se, tudo aquilo não era apenas invencionice do Pedro Bloch, agora, depois dessa, mudei completamente de idéia e, pude realmente perceber que “Criança têm cada uma...”.

Pedro Bloch já dizia, "criança tem cada uma..."


Criança tem cada uma...

Paulo de Almeida Ourives

As vezes passamos pela vida e nos deparamos com cada situação que ficamos completamente embasbacados com as coisas que algumas crianças nos dizem, ou soltam em sua expontaneidade. Vocês já repararam que não há um único livro de crônicas que não tenha pelo menos uma história de criança? Pois é, aqui neste livro há muitas crônicas que escrevi onde as crianças são protagonistas e personagens principais de cada situação que vivi, que de vez em quando eu me via recordando daqueles momentos tão hilariantes.
Segundo os poetas as crianças são verdadeiros anjos, pois dizem apenas a verdade e o que sentem, mas como estou para filosofar um pouquinho eu diria que as crianças de hoje, já nascem muito mais inteligentes do que as crianças de décadas atrás, inclusive da nossa própria geração ou, gerações anteriores a nossa, como a dos nossos pais e avós e por aí vai. Mas criança é sempre criança, onde quer que esteja não faz por menos, solta uma graça ou uma verdade, e todos nós começamos a rir dessas situações inusitadas.
Uma vez, quando ainda morava em Marataízes, e vendia empadas na praia, para ajudar aos meus pais, o tempo parecia que não estava ajudando muito, estava nublado, ventava além da conta, enfim, o dia não estava para peixe, e muito menos para entrar e tomar um banho de mar, principalmente em alguns balneários de Marataízes.
Ainda era cedo, estava na minha primeira viagem (saída), passei direto e reto pela praia da Areia Preta, sem que visse ninguém para comprar umas empadinhas. Mas ali, bem perto do Iate Club, havia uma cliente que fazia questão de comprar muitas empadas justamente na minha primeira viagem, passei pela sua casa, nem me lembro se ela estava em Marataízes, pois ela morava e trabalhava em Cachoeiro do Itapemirim.
Seguia rumo a praia principal, quando avistei de longe, uma família, na parte de baixo do muro que dá sustentação à piscina do Iate Club. Era uma senhora, um homem bem forte e um garotinho, pela hora e pela enorme bolsa que vi, no início confesso que nem passava pela minha cabeça a idéia de descer até ali naquele pequeno pedaço de praia para oferecer-lhes a minha empada, mas a medida que caminhava e tomava o rumo da calçada do clube, percebi no semblante de cada um, uma curiosidade natural de quem vai até Marataízes para tomar um banho, e as pessoas não me conheciam.
Já ia subindo na calçada, quando resolvi então voltar, descer a escada lateral e oferecer a eles o meu produto, apesar de saber que a probabilidade de receber um não era muito grande.
Mas, para minha surpresa, o homem estava desejoso de comer um bom salgado, e a minha empada era um convite aos olhos, a boca e ao estômago de qualquer um, principalmente porque ainda estavam quentes, e cheiravam muito.
Logo que desci, o homem quis saber o que eu vendia, e além de dizer que eram empadas, ele automaticamente quis comprar não apenas para satisfazer aquele desejo momentâneo mas, iria comprar muitas empadas. O garotinho, já estava bem ao meu lado, e resolvi então agachar-me para saber qual a empada que ele iria querer e ele, me respondeu:
- “Quelo de camalão”.
Fingi que não havia entendido direito, e pedi que ele me dissesse de novo qual a empada que ele queria, e a resposta foi a mesma, do mesmo jeito. Nisso o homem, falou bem alto, que ele não sabia falar “camarão”, pois ainda trocava as letras “r”, pela letra “l”.
Não me fiz de rogado, e disse que iria ensiná-lo a falar corretamente, enquanto ele ia buscar um prato para colocar as empadas. Pedi ao garotinho então, que repetisse comigo as palavras “ca-ma-rão”. Ao que ele então me respondeu corretamente, mas com uma certa dificuldade, principalmente na última sílaba, mas falou.
Pedi então que falássemos novamente a mesma palavra mas, um pouquinho mais rápido, e ele então me acompanhou e conseguiu pronunciar a palavra corretamente. Satisfeito, por ter conseguido ensiná-lo a falar “camarão”, de maneira correta, pedi então a ele que falasse mais uma vez de forma rápida mas, desta vez, sem que eu o ajudasse, e eis que o garotinho, parou, respirou bem fundo, e soltou um:
- “Ca-ma-rão”, de forma rápida, e sem a minha ajuda.
Não me contive e disse para o homem: - “Está vendo, consegui, ele falou corretamente!”. Então decidido a mostrar que ele podia falar a palavra corretamente, pedi ao garotinho que repetisse para o seu tio (já tinha descoberto então, o grau de parentesco dos dois), a palavra de forma correta, e eis que o garotinho então, respondeu:
- “Só falo uma vez”.
E ponto final, a resposta dele, foi tão seca que tanto eu como o tio dele, ficamos de queixo caído diante daquela resposta tão séria e inusitada, principalmente porque eu jamais poderia imaginar que uma criança de uns dois anos aproximadamente, pudesse dizer algo de forma tão segura e catedrática.
Vendi as empadas, levantei-me, agradeci e me despedi deles, completamente sem graça daquela situação. Subi as escadas e voltei para a calçada do clube, ainda estupefato diante daquela resposta, mas quando passei pela igreja e pelas peixarias não me contive e caí na gargalhada com aquela resposta, e muitas pessoas que me viam, paravam-me para saber do que afinal eu tanto ria, eu lhes contava minuciosamente e não havia jeito, todo mundo acabava de rir da resposta do garotinho. Enfim, parodiando uma velha coluna de uma revista especializada em crianças eu diria que realmente, criança tem cada uma...

Tenho pena


Tenho pena

Paulo de Almeida Ourives

Quando era garoto acreditava que era o sujeito mais inteligente do mundo, e todos ao meu redor não passavam de bestas quadradas. Com o tempo, percebi que achar-me o mais inteligente era motivo para iniciar-me na solidão.
Ao chegar a idade adulta, percebi que não era o sujeito mais inteligente. Acima de mim havia muitos homens cujos cérebros eram mais privilegiados do que o meu, mas acima de todos nós, só há dois ou um, Jesus Cristo.
Com o passar do tempo, fui desejando ser apenas um cidadão comum, mas fiquei satisfeito quando pude ao menos enxergar um pouco além do meu nariz.
De jovem tímido, tornei-me um bom vendedor, isso sem falar na educação e no caráter que me foi lapidado aos poucos durante toda a minha infância. E assim, consegui conquistar a simpatia das pessoas, com a humildade e o ódio dos invejosos que não possuíam a capacidade de ser simples, honesto e educado.
A simplicidade e as aulas que a vida me deu, como vendedor, despertaram em mim a vontade de procurar o aperfeiçoamento. Mas a vida já havia me delegado sabedoria suficiente para alcançar vôos maiores. E com a modéstia, acabei conquistando mais e mais pessoas.
A minha tristeza, foi quando percebi no seio de algumas pessoas, a falsidade, sentimento que desconhecia, pois procurei ter sempre a firmeza da minha palavra, da minha fé e do meu caráter. Abri mão de muitas coisas, para esse tipo de gente. E não me arrependo do que fiz. Afinal, está escrito na Bíblia, “quando levares um tapa no rosto, dê a outra face”.
E assim, fui caminhando pela vida. Tropeçando, levantando, caindo, voltando a me levantar, escorregando pelas calçadas, encontrando muros, portas fechadas e dando cabeçadas em postes. Mas não desisto, sei que ainda não posso me dar por vencido. Porque muito além do horizonte, o meu caminho será de vitórias e glórias.
Por isso, tenho pena dos arrogantes, que se acham os donos da verdade. Que jamais a encontrarão e, tampouco irão conhecê-la. Porque ainda não acordaram, não perceberam que estão vivendo em um mundo irreal, de fantasia, vivem do materialismo, mas se esquecem que um dia, tudo isso irá acabar. Nada do que possui, será levado para o outro mundo. E quanto mais arrogante, menos impopular e mais longe estará de um mundo totalmente novo, que está para chegar.

Sobre "A pedra"

A pedra existe, e está há poucos metros antes da enseada narrada nessa página, e um pouco mais abaixo. O texto em si, já explica tudo, e quem vê essa pedra tão especial, e passa ali assiduamente, não deixa de olhar para ela, todos os dias, intrigado com essa obra da natureza. Para quem não sabe, é uma pedra simples, sem atrativos, quadrada ou retangular, mas que aguçou a minha curiosidade, e a vontade de escrever sobre ela.

A pedra


A pedra

Paulo de Almeida Ourives

Quando morei em Vila Velha e trabalhava no centro de Vitória, de vez em quando eu resolvia ir para o trabalho de barca. Naquele passeio de quase vinte minutos, aproveitava a viagem para curtir e apreciar as belezas naturais da Baía de Vitória. Em algumas viagens todos os passageiros ficavam maravilhados com o tamanho dos navios puxados pelos rebocadores, que entravam e saíam pela Baía com destino ao Porto de Vitória, ou indo embora mar adentro. Foi numa dessas viagens que deparei com aquela pequena pedra. Não era uma dessas pedras grandes que logo chamam a atenção, mas uma pedra pequena, de uns 70 centímetros de altura, por quase um metro de comprimento.
O que chamava a minha atenção, era como a natureza podia ser tão pródiga em colocá-la ali, ao nível do mar em cima de outra pedra quase submersa e muito menor do que ela, que estava em cima. A impressão que se tinha, era de que alguém havia colocado ela ali de propósito, mas quem? Eu não conseguia encontrar uma resposta plausível, para aquela indagação.
Fitava a imensa rocha que fazia parte do Porto de Capuaba, em Vila Velha, com uma rala vegetação em seu imenso corpo mas não via nada que pudesse me dizer de onde tinha surgido aquela pequena pedra, ou como ela havia parado ali.
Com o tempo, e as inúmeras viagens que adorava fazer, ficava cada vez mais intrigado, curioso e encantado com a possibilidade de saber que a própria natureza havia colocado ela ali, daquele jeito, para chamar a atenção de pessoas como eu, com imensa sensibilidade para se encantar com algo tão inusitado.
Somente quem tem sensibilidade, é que percebe nas pequenas coisas da natureza, a Mão de Deus. A impressão que tinha, era de que aquela pedra era mágica, pois não havia uma única oportunidade que eu passasse por ali, que não desse uma olhada e contemplasse a beleza daquele pequeno acidente da natureza.
Quem já viu os imensos Moai, na Ilha de Páscoa, sabe do que estou falando. São imensas pedras com imagens de rostos, virados para o mar. E os Moais estão em toda a parte daquela pequena ilha do Pacífico. Onde um bom número de turistas todos os anos passam por ali, para apreciar e se encantar com os Moai.
Vim embora para o Estado do Rio de Janeiro, e de vez em quando lembro-me daquela pedra, que parecia estar flutuando no mesmo local, sob as águas da Baía de Vitória. É bem verdade que na Praia da Costa, em Vila Velha, havia uma outra formação rochosa que tinha o formato de um “Sapo”, e atraía inúmeros curiosos, que aproveitavam para nadar até a ilha somente para apreciar o “Sapo”.
Mas, aquela pequena pedra parecia querer contar alguma coisa. As vezes, quando passava por ali e estava inspirado conseguia viajar no tempo e no espaço, tentando descobrir em que época da história houve algum acidente que pudesse me explicar como aquela pedra havia estacionado ali. E não conseguia encontrar as respostas que queria.
Frustrei-me de não ter tirado uma foto daquela pedra, para guardar de recordação das prazerosas viagens de barca que fiz entre Vila Velha e Vitória. Viajava no alto delas, em bancos ao ar livre, recebendo no rosto um pouco daquela maresia característica das águas da Baía de Vitória, do vento gostoso que descabelava a maioria das passageiras, do barulho do motor da barca, do apito dos rebocadores quando passavam puxando um imenso navio, dos gritos e acenos dos tripulantes das embarcações estrangeiras que passavam por nós.
Aquela pequena pedra foi importante na minha vida, pois ela me fez refletir sobre diversos fatos que aconteciam comigo naquela época, e principalmente sobre a comprovação da existência de alguém muito maior do que nós “pobres mortais”, e que construiu todas as maravilhas da natureza.

Um comentário

Na pressa de querer postar mais alguns textos, esqueci de fazer um comentário a esses três textos abaixo, "A fila", "A enseada" e "A noite". Mas não foi por querer, afinal depois de ter escrito tanto, o cansaço toma conta do nosso corpo, e já não conseguimos mais pensar em nada.
"A noite" é uma reflexão feita numa noite de lua cheia, em que do alto do edifício onde morava, passei a observar tudo ao meu redor, e assim "viajei", sai do meu corpo físico e vaguei pelo espaço, observando o que fazia as pessoas naquele momento.
"A enseada", é sublime. Ela existe, e foi-me difícil encontrar uma foto que se parece com aquele cenário, dois mundos tão próximos e tão distantes ao mesmo tempo. A proximidade da enseada com o continente era de aproximadamente 100 a 150 metros. Quase na entrada do Porto de Capuaba, Vila Velha, ES. Uma casa feita de tábuas de madeira, dois barcos, algumas aves, nenhuma alma durante o dia, e só ao entardecer, quando passava por ali, via à luz de vela, alguém sentado na mesa. Tão próximo de mim, mas tão distante do mundo em que vivia, como vocês irão notar, e espero que gostem desse texto.
Deixei "A fila", por último, até por uma questão de estratégia. Mas vocês já se perguntaram alguma vez, para que serve a fila? Ou depois de tê-la enfrentado perceberam que estavam na fila errada? Isso acontece muito, hoje talvez não, mas até bem pouco tempo atrás, quando vivíamos na carestia, em que a inflação mandava nesse país, e tudo sumia, o brasileiro vivia em filas intermináveis, e num dia, aqui em Campos, o fato narrado aconteceu. E eu ali, parado na porta do Liceu, criei esse texto.
Boa leitura!

A fila



A fila

Paulo de Almeida Ourives

O cotidiano é pródigo em dar-nos oportunidade para vermos ou ouvirmos alguns acontecimentos que são de tão engraçados podem virar piada. Melhor ainda quando conhecemos outros lugares, outras cidades, ou até mesmo, costumes de outros países, mesmo sem nunca ter saído do país. Afinal, as TV´s fechadas estão aí para isso, mostrando-nos diversas imagens, reportagens e documentários sobre os costumes e tradições em outros países.
Um dia de semana qualquer, estava numa fila para inscrever-me em um concurso público, a fila era imensa na frente do Liceu de Humanidades. Para que tenham uma idéia da quantidade basta lembrar que a fila ía de uma das portas até a escadaria lateral. Devia portanto ter pelo menos duzentas pessoas, isso se não houvesse mais pessoas, aproveitando-se da sombra das árvores da rua Barão da Lagoa Dourada.
Mas enfim, era uma fila enorme, e as pessoas ali estavam muito ansiosas em serem atendidas com rapidez pois o sol daquela manhã era muito forte.
Em meio as minhas olhadas para os lados, para apreciar e ver tudo o que se passa, principalmente para os lados da praça em frente ao Fórum, percebo pela distância que uma senhora, não tão idosa assim, caminhava pela rua Gil de Góis, no sentido da Estação para o centro da cidade, quando repentinamente mudou a sua trajetória e veio direto ao encontro da fila.
Quando chegou bem perto, chamou a atenção de alguém que estava bem à minha frente e perguntou:
- “Olá, para que serve essa fila?” - logo, a pessoa indagada, respondeu-lhe o que era óbvio, e disse que a fila era para inscrição em um concurso público. A curiosa senhora então, ao ouvir a resposta deu meia volta e voltou ao seu rumo, mas antes de virar-se ouvi claramente que ela iria mandar a filha e a neta inscreverem-se para o concurso e aproveitar aquela oportunidade.
Ao ouvir tais palavras, e acompanhando o seu passo rápido até o ponto de onde ela havia saído, me vi então filosofando sobre a curiosidade daquela senhora. Lembrei-me então de outras situações, e de outras filas que enfrentei, como a da carne, no final da década de 70, quando residia no Rio de Janeiro, e todos os sábados eu ia cedinho para um supermercado que ficava entre os bairros de Olaria e Vila da Penha, para comprar a carne para a semana toda. E isso aconteceu durante semanas, até que o governo brasileiro resolveu então comprar carne bovina da Argentina.
Mas voltando as minhas indagações, percebi e cheguei a conclusão de que o brasileiro quer queira ou não, gosta mesmo é de entrar numa fila. Não importa para o quê, no início ele entra sem reclamar, com o tempo, e a demora ele passa a ficar nervoso, reclama da demora, do governo, acha que é um absurdo enfrentar a fila, reclama de quem está na frente, que não cobra mais agilidade no atendimento, enfim, reclama de tudo e de todos, mas quando chega a sua vez de ser atendido, quer ficar horas e horas sendo atendido pela bela mocinha. E se esquece que reclamou tanto dos outros que também queriam ter o privilégio de receber alguns minutos de atenção daquela mocinha bonita, simpática e com um belo sorriso estampado no rosto.
Mas como lhes disse, há doido para tudo, tem gente que entra numa fila, e quando chega na frente é que pergunta para que serve a tal fila. Existem aqueles que já viraram até profissionais de fila, aliás, diga-se de passagem esta é uma categoria de cidadãos que ainda não criou um sindicato, não possui estatuto, e nem regulamentação, ou sequer foram lembrados pelos nossos governantes. Não pagam impostos, mas vivem exclusivamente do aluguel de seus corpos para enfrentarem uma fila. Eles, normalmente levam cadeiras, mesas, baralho, comidas, bebidas, cobertores, travesseiros e por aí vai. E fazem de tudo para ganhar um dinheirinho, vendendo até o que levaram para suprir os gastos que terão.
Há aqueles que fazem de tudo para ganhar um dinheirinho a mais, e entram numa fila só para leiloar a vaga. Mas há também aqueles caras que entram numa fila e a todo momento ficam perguntando a hora para um e para outro cidadão que também está na fila, quando é que a fila vai começar a andar e só entram numa fila para reclamar. Enfim, em termos de fila há doido para tudo.
É claro que há outros tipos que entram numa fila não perguntam nada, obedecem criteriosamente a ordem de chegada e quando chega o momento de ser atendido é que pergunta para que serve a tal fila. Isso sem contar aqueles que ficam horas e horas ali parado na fila e depois de um bom tempo, quando passam a ter a possibilidade de serem atendidos, desistem.
A fila, é assim, um lugar público, onde as pessoas acabam se conhecendo, trocam idéias sobre todos os assuntos, esgotam a paciência de todos aqueles que estão por perto e depois de algum tempo vão embora, passam dezenas de vezes por aqueles que estavam a sua frente, e simplesmente não lembram mais que um dia estiveram em uma fila, fizeram uma pequena amizade que esvaiu-se depois que foram atendidos.
Depois de muitas reflexões sobre estes diversos tipos de pessoas que fazem de tudo para enfrentarem uma fila, fiquei pensando se um dia eu fosse um repórter de jornal (isso aconteceu antes de entrar numa redação de jornal), e fosse dar uma sugestão de título para a matéria escrita. Cheguei a conclusão que o melhor título para a matéria seria: “Tarados por uma fila”.
Mas, nesse mesmo instante, lembrei de uma coisa, “e se eu estivesse em Portugal?”. Como sei que as palavras lá na terrinha tem outro significado, comecei a ficar preocupado com o título, tudo porque lá em Portugal, a fila possui um outro nome. E o título da matéria teria que ser traduzido para a língua portuguesa materna, os portugueses então passariam pelas bancas de jornais no dia seguinte e veriam a seguinte manchete: “Tarados por uma bicha”. E cá entre nós, não adianta alguns espertinhos tentarem furar a bicha, pois os portugueses, acabam mandando o gajo ir para o rabo da bicha.

A enseada



A enseada

Paulo de Almeida Ourives

Como já contei em outras crônicas, de vez em quando passeava ou viajava de barca entre Vila Velha, onde morava e, Vitória, onde trabalhava. E entre um passeio e outro, vislumbrava uma pedra pequena que parecia flutuar sob a água da Baía de Vitória. Bem ao lado, havia uma pequena enseada, um lugar curioso, que apesar de estar a poucos metros da civilização, na verdade vivia completamente afastada do mundo.
Sei que uma família morava ali, pois além de uma canoa e rede de pesca, instrumentos utilizados pelo chefe da casa, de vez em quando eu via algumas galinhas e um cachorro.
Mas aquela enseada era interessante. Uma pequena prainha, com algumas árvores, a fazer sombra, um quintal, e uma casa de madeira. Ao entardecer ou à noite, quando saía de um emprego e ía para o outro, naquela caminhada vislumbrava uma luz de velas, ou lamparina, sinal de que não havia energia elétrica naquela casa.
Dali do meu posto de observação, do outro lado da avenida Beira-Mar, ficava imaginando como seria a vida ali, naquele pequeno pedaço de mundo, nas margens de um outro mundo em evolução.
Uma cidade toda iluminada pela energia elétrica, pessoas indo e vindo para o trabalho, em seus veículos particulares e nos ônibus, gente saindo da escola, pessoas que vivem e não conseguem sobreviver sem a energia elétrica. E eles ali, naquele pequeno mundo, sem energia elétrica, sem um rádio, uma televisão, uma geladeira e tantos outros aparelhos eletrodomésticos que usamos no dia-a-dia e sabemos que necessitamos da energia elétrica para fazê-los funcionar. E aquela família ali, na pequena enseada a ver tudo e a todos nós.
Parecia que olhávamos um para o outro a imaginar como éramos estranhos, e como os nossos mundos eram tão distantes. Eles ali, sem energia elétrica, e nós do lado de cá, com uma infinidade de melhorias e serviços que eles não tinham.
É lógico que aquela família não vivia ali, enclausurada naquele pequeno mundo, pois a canoa de vez em quando aparecia do lado de cá, próximo do Clube de Regatas Saldanha da Gama, e lógicamente eles procuravam ou compravam alimentos, remédios, roupas e outras coisas para a sua subsistência.
Imaginava como seria possível uma família viver sob aquelas condições, quais as dificuldades que eles tinham, e quais as vantagens de morarem tão afastados do mundo moderno.
Um mundo violento, onde algumas pessoas cometem crimes bárbaros por pouca coisa, ou quando muito sem motivo aparente. Mas ali não, não havia violência, porque morava apenas uma família. Sei que as dificuldades eram muitas, talvez tivessem um filho que estudasse ali perto. De dia, ajudava o pai, na pesca ou no levar-e-trazer passageiros de um lado para o outro da Baía de Vitória, à noite sob a luz de uma vela, ou de lamparina, o garoto possivelmente poderia estar estudando.
Essas divagações e comparações que fazia entre esses dois mundos tão distintos e tão próximos não levavam tanto tempo assim, como por exemplo, o tempo que o leitor deve estar gastando para ler esta crônica. Eram apenas algumas divagações em cinco ou, oito minutos, tempo suficiente para vislumbrar aquela pequena enseada enquanto continuava a minha caminhada até o outro emprego, próximo do Colégio Dom Bosco.
Sei, que além daquela pequena enseada, há no país outros lugares como aquele, com gente simples a habitá-la, gente que vive do jeito que eles aprenderam com seus pais e avós, sem muitas das melhorias tecnológicas que temos.
Não assistiam a TV, e talvez não soubessem dos fatos que ocorriam pelo mundo afora, guerras, pestes, gente morrendo de fome, pessoas morrendo de Aids, o homem em sua luta constante para descobrir os mistérios do espaço, e do fundo do mar. E eles ali, tão perto de tudo mas, tão distante dos problemas e das doenças que enfrentamos. Talvez fosse até presunção minha, dizer que nós somos uns bobos, porque no fundo, no fundo, o que mais queremos na vida, é descobrir o paraíso, e o paraíso está ali, tão pertinho de nós.

A noite


A noite

Paulo de Almeida Ourives

É noite, olho da janela do apartamento e vejo a cidade toda iluminada, os bairros mais distantes, o farol do aeroporto a emitir sinais luminosos para os aviões que sobrevoam a planície. A noite é de lua cheia, e a lua ainda ilumina a cidade com o seu brilho. Sua luz pálida, refletida nas nuvens que passam neste momento pela planície embelezam ainda mais o céu e essa noite.
Vejo lá embaixo, pessoas indo e vindo, caminhando, andando de bicicletas, motocicletas, outras pessoas em seus carros, possivelmente voltando para suas casas, ou indo visitar alguém. Vejo estudantes na faculdade de direito, e outros jovens praticando esporte na quadra que fica nos fundos da primeira Igreja Batista.
A noite é linda. Paro para observar tudo o que se passa e fico a imaginar quantas pessoas neste momento estão em suas casas, jantando, assistindo TV, talvez um noticiário, ou um programa de variedades, quem sabe um filme em um canal fechado, ou uma novela. Daqui de cima, vejo a quantidade de coisas que acontecem ao mesmo tempo. Se de um lado há pessoas que procuram se divertir ou descansar depois de um longo dia de trabalho, por outro lado, nos bairros mais distantes, há pessoas que estão procurando resolver os seus problemas da pior maneira, matando. É o que chamamos de violência urbana, são pessoas roubando e praticando toda a sorte de delitos, contra pessoas que lutaram para conquistar o seu espaço, e os seus bens.
Mas o que fazer? Absolutamente nada.
Tento então fazer uma viagem, lanço-me no espaço, para ver melhor tudo o que se passa nesta noite, faço um esforço e aos poucos vou conseguindo o meu objetivo, ver toda a cidade ao mesmo tempo. Quantas pessoas já estão em suas casas. Lá no interior vejo as famílias, na cama, dormindo, recuperando as energias para o dia que virá.
Vou mais além em minha viagem pelo mundo, enquanto aqui é noite, lembro que do outro lado do mundo, os japoneses já estão nas ruas, indo para o trabalho, as crianças indo para a escola. As bolsas já começam a se agitar para mais um dia de negócios, e de pregão.
Lembro-me da cobertura da virada do ano de 1999, para 2000, quando a TV Record entrou em cadeia com diversas emissoras de televisão do mundo, mostrando o novo ano que vinha surgindo. Nesse momento, desejaria, estar lá do outro lado do mundo, em uma pequena ilha no meio do Oceano Pacífico a poder contemplar o dia que nasce, e a noite que termina.
Daqui da minha pequena tela - a janela -, vejo um mundo em movimento, consigo vislumbrar e imaginar tudo o que se passa lá embaixo, não só o que acontece na minha rua, mas em todas as outras ruas que posso ver, e nas outras que não vejo. É apenas um exercício para a minha imaginação. Um passeio que nenhum morador de uma das casas vizinhas ao prédio em que moro, consegue fazer.
As nuvens continuam a se mover, ou melhor, somos nós que nos movemos, ou quem sabe, ambos nos movemos, pois enquanto a Terra gira em volta do seu eixo, as nuvens movem-se em direção norte e sul.
A Lua já está bem mais alta, e fico impressionado com um detalhe que ninguém se atreveu a explicar, porque quando vemos a Lua cheia, no horizonte ela está enorme, e quando a vemos duas ou três horas depois ela está bem menor? Curioso, será que vocês já tinham percebido esse detalhe, sobre a lua cheia?
É noite, já está tarde, daqui a pouco é hora de deitar e dormir, pois o cansaço já está chegando e amanhã será um novo dia. Um dia em que espero poder resolver tudo o que planejei. Aproveito então para dar a última olhada em tudo o que posso ver, e percebo aos poucos que os grandes escritores de novelas talvez residam em apartamentos bem altos, de onde eles podem ver e observar tudo o que acontece embaixo de seus olhos, e assim conseguirem a inspiração necessária para escrever mais um capítulo da novela que eles tem em mente. Mas por enquanto, vou apreciando essa bela noite.

Por quê esconder a cara?

Vocês já repararam, como é estranho, você ver uma pessoa fotografada com óculos escuros em um jornal, e você não ter a menor idéia do que ela está realmente olhando?
Sinceramente, acho ridículo pessoas posudas e posadas, que tentam esconder aquilo que todo mundo já sabe.