quarta-feira, maio 17, 2006

A arte de narrar um dia-a-dia

A ARTE DE NARRAR UM DIA-A-DIA

Paulo de Almeida Ourives

Todos os dias acordo às quatro horas da manhã e enquanto, fico uma hora enrolando o tempo na cama, há muitas pessoas lá fora, já trabalhando, como por exemplo os motoristas de táxi, que trabalharam à noite, e já estão esperando a hora de encerrar o seu expediente, para ir embora para casa dormir. Por outro lado, outros colegas de profissão, mas de ônibus, estão caminhando em direção as garagens das empresas de ônibus de Campos, prontos para iniciarem mais um dia.
Os padeiros já começaram o seu dia de trabalho, e aprontam a massa dos pães, que serão consumidos logo depois no café da manhã de milhares de pessoas. Não importa se com queijo, margarina ou manteiga, se na chapa, ou torrada, o certo que os pães entrarão logo depois no estômago de tantas pessoas famintas.
Enquanto os padeiros preparam a massa, outra massa de trabalhadores, sai à rua, os jornaleiros, em suas bicicletas de carga, motos e carros, eles se dirigem para as distribuidoras de jornais e revistas para buscar as últimas edições de revistas e jornais.
Todos os dias, às cinco horas da manhã, quando as padarias, já estão terminando de fazer a primeira fornada de pães do dia, algumas prostitutas e travestis que fazem ponto na Rua Tenente-Coronel Cardoso, esquina com a Rua dos Andradas, e, em outro ponto, na esquina das Ruas 21 de Abril, com Andradas, e na Aquidaban, com Rua do Ouvidor, estão encerrando os seus turnos de serviço, as suas noitadas.
Neste exato instante, quando começo a tomar meu banho, o locutor Chico da Rádio, começa a fazer o seu programa diário, na Campos Difusora.
Por volta de 5:30, todos os dias, quando o jornalista e radialista, Fernando Leite, entra no ar, pela Rádio Litoral FM, eu do outro lado da cidade, já estou começando a me vestir, as padarias estão começando a abrir as suas portas, muitos ônibus com motoristas e trocadores saem das garagens, para iniciar o seu dia de trabalho, e levar os boêmios para casa, ou levar quem já acordou para o trabalho.
Nesse horário, em algum ponto da cidade, muitas pessoas, já estão fazendo suas caminhadas em volta do Jardim São Benedito, ou pela ciclovia localizada na Avenida 28 de Março.
Todos os dias, quando saio de casa, por volta das 5:45, sempre encontro duas senhoras fazendo caminhada pela ciclovia, da Avenida Felipe Uébe. Nesse momento, muitos enfermos, nos hospitais da cidade, são acordados pelos enfermeiros, para tomar o remédio e verem a sua pressão arterial medida. Nesse momento, milhares de batidas do coração são ouvidas por todos os enfermeiros que trabalham na Santa Casa de Misericórdia, Hospital Dr. Beda, Pró-Clínicas, Beneficência Portuguesa, Hospital Ferreira Machado, Hospital de Guarus, e outros hospitais cuja memória não lembra, mas sabe que existem.
Todos os dias, quando já estou na ciclovia, um senhor aparentando pouco mais de cinqüenta anos, faz a sua caminhada, acompanhado de seu cãozinho cinza, da raça Poodle. Todos os dias, ele veste a mesma roupa, uma camiseta de algodão branca, em que se lê “1 ano”, de algum evento, uma bermuda jeans, meias brancas e tênis preto. Todos os dias, na mesma hora, no mesmo local.
Quando chego no ponto de ônibus, cinco minutos ou mais depois de ter saído de casa, sempre encontro um funcionário do Hipermercado Sendas, que as vezes tenho a impressão de que ele já trabalhou para a Guarda Municipal, até que chega a sua colega de empresa, que também me parece familiar.
Uma vez ou outra, converso com ele, que hoje, 26 de outubro, descobri sem querer que seu nome é Geraldo, porque sua colega pronunciou. Enquanto aguardamos os ônibus que nos levarão para os nossos locais de trabalho, vem passando um ônibus da Transmac, e que acaba chegando perto do ponto de ônibus, diminuindo a velocidade, e se não dou conta de prestar mais atenção, sou capaz de fazer sinal para ele.
Todos os dias, enquanto estamos no ponto, vem chegando uma senhora, acompanhada de sua filha. Hoje por acaso, cheguei um pouco antes, e pude ver o itinerário dela. Ela sai de alguma rua, duas ou três ruas depois da Sendas do Turf-Clube, atravessa a Avenida 28 de Março, para a calçada do mesmo lado do ponto em que estou, como se preparando para pegar um ônibus com destino ao centro, mas na verdade, ao chegar bem próximo de nós, possivelmente, a filha, atravessa a rua para o outro lado, e pega um ônibus que ainda não tive oportunidade de descobrir qual é, e vai em direção ao Jóckey, ou ao Farol. Depois que a filha embarca no ônibus, todos os dias, a sua mãe, ainda fica a olhar o ônibus indo embora, para somente, depois de cinco minutos, voltar para sua casa.
Todos os dias, os funcionários do Hiper Sendas, pegam um ônibus, que vem na frente daquele que me serve. E isso sempre acontece, depois que o sino da Igreja Católica Tradicionalista, localizada na Rua Riachuelo, dá as seis badaladas. Mas todos os dias, quando pego o ônibus, seja da Viação Brasil, ou Rangel, há dentro dele, pelo menos cinco funcionários da Transportadora Fadel, que já no início da manhã, por volta das 6 horas, já estão com bala na agulha, e começam a brincar uns com os outros dentro do ônibus, até as imediações do Jornal A Cidade, na Avenida Alberto Torres, depois da linha, da antiga Estação Ferroviária, que atualmente, é a sede do Colégio Anglo.
Todos os dias, quando eu entro dentro do ônibus, eu cumprimento o trocador, como uma forma de humanizar o dia-a-dia deles, que vivem apenas olhando as notas de um, dois, cinco e dez reais, ou dos vale-transportes, que depois de recolhidos vão para o cofre e a conta das empresas. Todos os dias, quando desço do ônibus, também agradeço pela viagem e dou um bom dia para o motorista, pedindo a Deus, que o proteja, e que ele possa levar o restante dos passageiros em paz.
Enfim, todos os dias, por volta das seis e quinze, ou seis e vinte, encontro um dos porteiros da empresa de Vigilância e Serviços Gerais da MAC, e os cumprimento com um bom-dia. Às vezes, eu consigo chegar na faculdade antes do primeiro locutor da Rádio Educativa, o Romualdil. Quando chego depois dele, todos os dias, acendo a luz do corredor do segundo andar, tomo um pouco de água gelada do bebedouro, aliás o único bebedouro da faculdade em que sai água geladérrima, abro a porta da Coordenação de Comunicação, passo pela porta interna da Coordenação, viro a direita, acendo o interruptor do corredor que dá acesso, a técnica da UniTV e Estúdio da mesma emissora, subo as escadas, verifico se a porta da Redação da rádio está aberta, mas como o Romualdil, nunca abre a porta, vou até o estúdio, o cumprimento, dou-lhe um bom-dia, torço para que ele tenha um ótimo dia de trabalho, pego as chaves, entro na sala da Redação, ligo os computadores, o ar condicionado, o rádio para ficar na escuta, e começo o meu dia de trabalho, exatamente pela internet, para ver o que aconteceu na noite anterior, e pela madrugada, antes de chegar a emissora. Depois disso, só em outro capítulo.

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