quarta-feira, maio 17, 2006

Uma lição de vida



Uma lição de vida

Paulo de Almeida Ourives

Tem pessoas que nascem, crescem, brincam, começam a estudar, vão aprendendo nas escolas o que é certo e o que é errado, vão envelhecendo, amadurecendo, mas chegam num ponto da vida, que resolvem abolir tudo o que aprenderam em prol das aparências. Por mais que se diga que o que elas estão fazendo é ruim, e prejudicial à vida delas próprias, ainda assim elas insistem em continuar burlando os conselhos e avisos de pais, médicos e amigos de família. Não adianta, o cigarro é um vício, e normalmente quem fuma acha que pode parar a qualquer momento como se parar de fumar fosse tão simples como deixar de usar aquela camisa que a amiga da mãe dera de presente.
Não é tão simples assim, conheço muitas pessoas que só pararam depois de muito tempo, depois que um enfisema pulmonar, ou um derrame (conhecido também como AVC), lhe derrubou. Há pessoas que mesmo depois de um derrame ainda continuam a fumar, como se isso fosse a coisa mais banal do mundo, mas a cada cigarro acesso e uma tragada, na verdade todos estão se suicidando, pois o cigarro é o maior veneno criado pelo próprio homem.
Faço estes comentários porque nunca fumei, e confesso que quero mais é distância de qualquer cigarro. Principalmente se for depois de um ótimo banho, ter feito a minha barba, posto minha loção após barba. Como é horrível, você sair à rua, todo perfumado, e de repente na sua frente aparecer um sujeito fumando e expelindo aquela fumaça que o vento sempre faz questão de lançar na sua direção, e lá se vai, todo o prazer de uma barba bem caprichada, o perfume da loção, e o prazer de ter tomado um banho daqueles.
Quando eu tinha mais ou menos 10 anos, meu pai, me deu o melhor presente que um pai pode dar para o seu filho, um livro. Aquele era um livro todo especial, não era para mim, em especial, mas para ele, e enquanto ele trabalhava eu folheava aquelas páginas e as lia com toda atenção. Não era um livro qualquer, era um livro em que Pelé ensinava os seus melhores truques e chutes, para uma batida de falta ou passe saírem perfeitos. Muito do que usei jogando futebol, aprendi ali, naquele livro, mas, foi ali naquele livro, que estava registrada uma das maiores lições de vida do menino Édson Arantes do Nascimento, e eu, como bom leitor, li e guardei para mim aquela lição, como um dos dez mandamentos que Deus deu a Moisés no Monte Sinai.
Pelé contou neste livro, que uma vez quando ainda morava em Bauru, e jogava no Baquinho, ele e seus colegas estavam na rua brincando, até que resolveram parar um pouco e sentar no paralelepípedo para conversar. Um daqueles garotos, que era bem mais velho do que ele (ele tinha entre oito e dez anos), estava com um cigarro aceso na mão, e fez com que cada um daqueles meninos desse uma tragada. Sem graça, com aquela situação, o menino Édson, infelizmente foi obrigado a colocar e tragar aquele cigarro na boca. Naquele mesmo instante, em que o cigarro estava em sua boca, surgiu a figura do Seu Dondinho na rua, que fingiu que não tinha visto o filho com o cigarro na boca. O menino Édson, ficou completamente branco de susto, tirou o cigarro da boca o mais rápido que fosse, e começou a imaginar a surra que levaria quando chegasse em casa.
Resolveu então, que chegaria um pouco mais tarde do que o horário habitual, tiraria os seus sapatos (naquela época não se usava tênis, como hoje), e entraria de mansinho para que seu pai, já estivesse dormindo, e fugisse assim da surra que possivelmente iria levar.
O garoto então, ao chegar em casa, fez exatamente tudo do jeito que imaginara, até porque as luzes da sala estavam apagadas, consequentemente o seu pai já deveria estar deitado na cama. Tirou os sapatos, e entrou pé ante pé, pela casa, ao passar pela sala, entretanto, a luz se acendeu. Édson ficou pálido, e começou a tremer já temendo pelo pior. Eis então que seu pai, lhe perguntou:
- Porque você está entrando na sua casa desse jeito, meu filho? Perguntou Seu Dondinho.
O menino empalideceu, olhos arregalados, não conseguia balbuciar uma única palavra de temor, pelo que havia feito lá na rua, algum tempo atrás.
- Meu filho, só vou lhe fazer mais uma pergunta. Que gosto tem a fumaça? Indagou Seu Dondinho.
Pronto, aquela fora a fatídica pergunta, que o menino Édson e muito menos eu, esquecemos. Ele por ter escutado, eu por ter aprendido.
O tempo passou, o menino Édson cresceu, virou Pelé. Encantou o mundo, com suas jogadas, suas tabelinhas com Coutinho, Pepe, e posteriormente Toninho, que vieram a consagrar o Santos Futebol Clube, como o primeiro clube bi-campeão mundial interclubes, e tantos outros títulos conquistados pelo famoso “Peixe Santista”. Pelé ainda conquistou diversos títulos pela seleção brasileira, jogou e encerrou a sua carreira no New York Cosmos, nos Estados Unidos, mas uma coisa todos devem se lembrar, ele jamais fez uma propaganda sequer de cigarro, e bebida alcóolica.
E foi através desta lição de vida, do Atleta do Século, que eu também prefiro manter a maior distância possível do cigarro, “o veneno do século”.

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