terça-feira, maio 16, 2006

Como ela se machucou?

Como ela se machucou?

Paulo de Almeida Ourives

De vez em quando acontece umas coisas estranhas em viagem de ônibus que não dá para ficar quieto, principalmente quando vemos ou ouvimos alguma mancada pronunciada por alguém que está viajando. E assim aconteceu, uma vez em que viajava como de costume entre Cachoeiro de Itapemirim e a praia de Marataízes.
Após o ônibus ter passado pela localidade de Safra, na divisa dos municípios de Cachoeiro de Itapemirim e Itapemirim, onde fica situada a praia de Marataízes, que agora é emancipada, o ônibus prossegue viagem até a Usina Paineiras, nesse meio tempo, antes de chegarmos na usina, eu lá de trás percebo um alvoroço em algum banco da frente e escuto que uma pessoa está passando mal. É aquele corre-corre, abre-se então as janelas para que a pessoa possa se refrescar e respirar melhor.
Percebo então que a pessoa que está passando mal é uma passageira que está ao lado de uma senhora. Esta por sua vez, avisa e pede ao motorista que ele pare em uma fazenda que fica logo depois da saída da Usina Paineiras, para que ela possa ajudar a mocinha que estava passando mal. Quando chega no referido ponto, descem as duas passageiras e o ônibus então prossegue viagem, mas aquele mal-estar característico do cheiro nauseativo de vômito não surge em nossas narinas, o que aliás me chamou a atenção, afinal de contas, quando alguém passa mal em ônibus logo vem a lembrança de qualquer passageiro, que alguém têm ânsia de vômito, mas tal não aconteceu, o que fez com que respirássemos aliviados, principalmente para os passageiros que estavam sentados atrás das duas passageiras.
Fechada a porta, o trocador então resolveu ir até o local onde as duas estavam sentadas, observa alguma coisa em um dos assentos e comenta bem alto para o motorista:
- “Ué, mas como ela se cortou, se ali não há nada que pudesse feri-la ou corta-la, para que saísse tanto sangue?”, perguntou o trocador.
Eis que a risada foi geral, principalmente lá na frente, onde havia muitos passageiros e eles perceberam a inocência do trocador. O motorista então foi o que mais riu do companheiro de primeira viagem. E ainda resolveu tirar um sarro da cara dele, pedindo que ele voltasse até a poltrona e procurasse em baixo da poltrona se a passageira havia deixado cair algum objeto cortante. O infeliz do trocador, inocente, coitado, voltou, agachou-se no corredor para olhar por baixo da poltrona e respondeu:
- “Não há nada aqui, que pudesse cortá-la tão profundamente, que saísse todo esse sangue! Como ela fez isso?”.
E novamente os passageiros deram gargalhadas e mais gargalhadas com o trocador, que a essa altura do campeonato já estava completamente vermelho de vergonha, sem saber o motivo porque havia tanto sangue naquela poltrona, onde uma passageira estava sentada.
E prosseguimos a viagem, sem que o trocador conseguisse entender o que afinal de contas havia acontecido ali, até que chegamos na praça principal de Itapemirim, e o motorista finalmente resolveu acabar de uma vez com aquela curiosidade e inocência do seu companheiro de trabalho.
- Mas você não percebeu, que a mulher simplesmente havia sangrado? – disse o motorista.
- Mas porquê? – perguntou o inocente trocador. E o motorista então deu-lhe uma rápida aula de biologia e conhecimento do corpo humano, finalizando e lembrando ao trocador uns versos da música de Rita Lee, em que todo mês a mulher sangra. E ainda assim, o inocente trocador não entendeu.

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