sexta-feira, maio 19, 2006

Maria

Maria
Paulo de Almeida Ourives

Estou cansado! Já não agüento mais o corre-corre do dia-a-dia, são tantos problemas aqui e ali, que me sinto enfraquecido. Preciso respirar! Necessito de umas férias, sair, viajar, ver outro lugar.
Ver pessoas e lugares diferentes.
Preciso sair daqui, conviver e viver a vida, fazer algo diferente, conhecer outras cidades, outros países.
Já sei, vou viajar de avião!
Nunca voei, esta será a primeira vez!
Decidido vou para Lisboa, conhecer Portugal.
...
Já estou chegando em Lisboa, capital portuguesa, e mesmo no avião já sinto o seu cheiro, seu perfume, ouço acordes de um fado, me vejo saboreando um bacalhau.
Ah, Lisboa! Tuas ruas, escadarias, becos e vielas.
Restaurantes, cafés, livrarias.
Já não sei quem sou.
Onde estou?
Me perco, andando pelas ruas portuguesas, vejo muitos rostos diferentes, sotaques de um linguajar da língua nascente.
Vejo o poente no Tejo, o trem que cruza o país, veículos coletivos circulando aqui e ali, e a noite chegando.
A fome aumentando,
andei caminhando
sem parar.
Agora procuro um lugar para me alimentar,
me embriagar
com um bom vinho tinto do Porto.
Em algum lugar,
sentar e ouvir as pessoas conversando,
e outras se embriagando,
cantando um fado.
Volto para o hotel, me jogo na cama cansado, apago.
Abro os olhos então, e vejo outro dia.
Lembro do que fiz quando cheguei,
procuro o gerente, me informo e tomo um trem para Coimbra e Cascais.
Volto no fim do dia, e sem nenhuma rotina, me embriago no cais.
Como sardinha, tomo uma cerveja escura, como todo bom português.
E assim, à noitinha, volto para o hotel do mesmo jeito,
cansado, fatigado,
me jogo na cama, ainda calçado,
durmo e não vejo nada mais.
No outro dia, resoluto, resolvo conhecer os quintais.
Vou para Leiria, e é lá que me perco, nas vielas e escadarias.
Conheço Maria, jovem lusitana,
de tez morena, que me mostra a beleza da cidade.
Ao lado dela, o tempo passa, me perco nas horas, mas já não me importo.
No restaurante, jantamos um bacalhau a moda do Porto, com vinho tipicamente português.
E é nos braços de Maria, que me embriago de novo,
os teus beijos e o teu abraço gostoso me enchem de alvoroço
e no meio da noite, saímos rua afora, rumo ao mundo.
No alto as estrelas nos conduzem para algum canto,
e ao longe escuto o canto,
do mais nobre lusitano.
Acompanhado de uma viola,
fazendo uma serenata,
para uma jovem rapariga,
a pedido de um jovem mancebo,
enamorado da bela rapariga.
E eu ali, no meu canto
nos braços de Maria
ouvindo aquele acalanto
vou me embriagando
de amores, com aquela jovem rapariga.
No dia seguinte, acordo,
já não vejo Maria,
ela se foi.
Me deixou só,
naquela cama vazia.
Meu corpo ainda suado,
e o lençol ainda molhado,
da noite maravilhosa de orgia,
que maravilha!
Saio do hotel, ando pelas ruas e me perco.
Já não sei quem sou
ou, onde estou.
Ando sem saber para onde ir,
Entro em ruas, subo escadarias,
pego um bonde, não sei para onde,
só sei que preciso ir a algum lugar.
Quero voltar a ver Maria,
e dizer o bem que ela me fez,
me embriagando em seus braços
naquela noite de magia.
Volto para Lisboa,
os dias passam,
volta a tristeza
de não ver Maria,
e a certeza de que a chave de meu coração
deixei em Leiria,
nas mãos de Maria.
De Lisboa volto para o Brasil,
mas já não sou mais o mesmo,
meu olhar perdido,
ainda continua triste,
e em minha retina só vejo Leiria e Maria.
Seu sorriso doce, sua voz macia,
seu sotaque gostoso,
seus braços, seus olhos,
que maravilha, Maria.
E na minha tristeza,
no meu semblante,
só sei que perdi para sempre
a chave de meu coração,
e o que me aquece,
é que ela está
para sempre
com Maria.

Escrevo, brinco com as letras e as palavras, não sei se isso por si só me dão a certeza de que sou um escritor. Escrevo por vício, nunca fiz poesia, mas a minha sensibilidade me faz acreditar que sei fazer rimas em uma poesia, mas já não sei se sou um escritor, ou um poeta.

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