sexta-feira, maio 19, 2006

O elevador



O elevador

Paulo de Almeida Ourives

De vez em quando por força das circunstâncias somos obrigados a sermos um pouco moleques e tirar um sarro da cara de algumas pessoas, mesmo que elas sejam desconhecidas, só com o objetivo de ver as reações de cada um. O que seria um ótimo teste para quem estuda ou quer fazer da Psicologia a sua profissão, o que não é o meu caso.
Mas um dia, lá em Vitória, aconteceu um fato corriqueiro e banal, para qualquer cidadão, mas diante da situação não perdi tempo, até porque estava tão tranqüilo que fiz aquilo só de maldade, para sentir a reação dos outros passageiros daquele elevador.
Quando fui morar em Vila Velha, e de vez em quando ía dar um passeio ou resolver alguma coisa em Vitória, eu custei a entender a dificuldade de se conseguir uma informação a respeito de um local ou uma repartição pública ou privada com um cidadão capixaba. Tudo porque o capixaba só conhecia as repartições e a sua localização pelo nome dos edifícios, e eu não conseguia assimilar aquilo, afinal de contas eu tinha ido do Estado do Rio de Janeiro para lá, e por aqui, seja em que lugar for, as pessoas conseguem distinguir os locais públicos ou as empresas pelo endereço, ou seja, pelo nome das ruas, avenidas, praças, etc.
Mas lá no Espírito Santo era diferente, era por nome de edifícios. E quanta dificuldade para encontrar os tais prédios, pois se eu dissesse que não sabia como chegar ao meu destino e perguntasse, a resposta era uma quantidade enorme de entra-aqui-sai-ali, dobra à direita, depois à esquerda, segue em frente, depois volta, que eu me via como um cego perdido no meio de um tiroteio, e não conseguia chegar ao meu destino. Só com muita paciência é que acabei por aprender e conhecer os nomes dos principais edifícios do centro de Vitória, e alguns que ficavam em bairros distantes.
E assim um dia, estava em um prédio, onde o elevador era sinistro (esquisito), pois dependendo do andar em que o cidadão ía, na descida era um tal de escutar o ranger do cabo de aço, e clangh, crunch, creech, e rebola e sacode que quem entrava naquele edifício e pegava aquele elevador, acreditava que o mesmo ia cair a qualquer hora, principalmente porque na descida ele acelerava e freava inesperadamente em meio a tanto rebola e sacode e aos barulhos que ele fazia. Parecia cena de filme de terror, como por exemplo “A hora do pânico” ou, “Pânico no elevador”.
Eu que sempre fui muito calmo, na primeira vez que andei naquele elevador, confesso que fiquei assustado mas, com o passar do tempo, sabendo que ele não caía de jeito nenhum, me acostumei com ele.
Até que um belo dia, eu fui obrigado a ir naquele edifício, que não consigo lembrar o nome. Para subir era uma maravilha, parecia que estávamos flutuando em alguma nuvem, pois ele não fazia nenhum barulho, e nem rebolava ou sacudia, quanto aos solavancos e barulhos eles não existiam, somente na descida.
Vale lembrar que aquele elevador também tinha um detalhe curioso e talvez fosse isso que mais amedrontava as pessoas, o fato dele ser pequeno, caber apenas 4 pessoas, e o fator peso era de aproximadamente 140 quilos para cada pessoa, a partir daí, a empresa responsável pelo elevador não garantiria o serviço de qualidade.
Portanto, um belo dia me vi na obrigação de subir até o último andar. Na hora de descer o elevador parou no andar debaixo e entraram três pessoas, um homem de quase um metro e noventa centímetros de altura e duas mulheres (mãe e filha), só que a mãe tinha mais ou menos um metro sessenta e era bem gordinha.
Enfim, havia três pesos pesados proporcionais aos seus tamanhos, o homem que estava posicionado a minha direita, a mulher gordinha bem na minha frente e eu, que tinha os botões de controle dos andares à minha esquerda. Fechada a porta, começou então o nosso suplício em meio as turbulências do elevador, pois foi um tal de sacode, rebola, clangh, cruuuuunch, creeeeech, que as mulheres começaram a ficar nervosas e me perguntaram se o elevador era confiável. Respondi-lhes (muito moleque e cinicamente), que não, pois ele era danado para parar fora do nível, isso quando não cismava em parar no meio do caminho e deixar muita gente presa. Dito isso, as duas começaram a ficar angustiadas, principalmente porque estávamos justamente em meio a turbulência daquele sacode, rebola, clangh, cruuuuunch, creeeeech.
Internamente eu estava satisfeito, pois afinal havia conseguido o meu intento, via as duas mulheres completamente nervosas e angustiadas, quanto ao homem eu nem olhava para ele direito, pois ele estava a minha direita e parecia que transpirava muito. Mas eis que, comecei a colocar em meu semblante um ar preocupado, e os meus olhos começaram a viajar entre a plaqueta que indicava o andar onde estávamos, e a pequena placa que ficava no fundo do elevador a nos avisar que a capacidade permitida era de apenas quatro passageiros ou 560 quilos. A partir daí a empresa responsável pela manutenção não garantia a boa qualidade do serviço.
Quase três minutos depois, ou quatro andares para baixo, em uma descida lenta, cheia de sacode, rebola e muitos barulhos, a mulher gordinha começou a perceber a minha preocupação, e muito nervosa perguntou-me porque eu olhava tanto para aquela plaquinha que estava no fundo do elevador e para nós todos ali naquele minúsculo espaço físico.
Foi aí, que para aumentar o desespero dela, eu disse que estava pesando uns 120 quilos (aumentei apenas 10 quilos em relação ao meu peso na época), a mulher começou a ficar agoniada porque de imediato fez as contas e olhou criminosamente para aquele homenzarrão que estava ao meu lado, muito mais alto e muito mais barrigudo do que eu.
Para minha sorte e felicidade da mulher, o elevador saiu da turbulência e desceu vertiginosamente em uma velocidade mais rápida do que o normal, mas isso já não era tão relevante, o fato é que ela desejava sair daquele elevador o quanto antes.
Quando a porta do elevador abriu no térreo, a gordinha saiu tão rápido que a impressão que tive foi a de que ela havia arrombado ou derrubado a porta do elevador, passando desse jeito por cima de quem estivesse na frente dela. Eu também saí rápido, até porque possivelmente o homenzarrão que estava bem ao meu lado estivesse com vontade de me pegar para que eu explicasse a minha molecagem, mas fui tão rápido que saí do prédio e depois de uns 10 minutos, em um bar bem longe dali, é que morri de rir, da cena e da cara daqueles passageiros do “elevador assustador”.

Nenhum comentário: