sexta-feira, maio 19, 2006

A noite


A noite

Paulo de Almeida Ourives

É noite, olho da janela do apartamento e vejo a cidade toda iluminada, os bairros mais distantes, o farol do aeroporto a emitir sinais luminosos para os aviões que sobrevoam a planície. A noite é de lua cheia, e a lua ainda ilumina a cidade com o seu brilho. Sua luz pálida, refletida nas nuvens que passam neste momento pela planície embelezam ainda mais o céu e essa noite.
Vejo lá embaixo, pessoas indo e vindo, caminhando, andando de bicicletas, motocicletas, outras pessoas em seus carros, possivelmente voltando para suas casas, ou indo visitar alguém. Vejo estudantes na faculdade de direito, e outros jovens praticando esporte na quadra que fica nos fundos da primeira Igreja Batista.
A noite é linda. Paro para observar tudo o que se passa e fico a imaginar quantas pessoas neste momento estão em suas casas, jantando, assistindo TV, talvez um noticiário, ou um programa de variedades, quem sabe um filme em um canal fechado, ou uma novela. Daqui de cima, vejo a quantidade de coisas que acontecem ao mesmo tempo. Se de um lado há pessoas que procuram se divertir ou descansar depois de um longo dia de trabalho, por outro lado, nos bairros mais distantes, há pessoas que estão procurando resolver os seus problemas da pior maneira, matando. É o que chamamos de violência urbana, são pessoas roubando e praticando toda a sorte de delitos, contra pessoas que lutaram para conquistar o seu espaço, e os seus bens.
Mas o que fazer? Absolutamente nada.
Tento então fazer uma viagem, lanço-me no espaço, para ver melhor tudo o que se passa nesta noite, faço um esforço e aos poucos vou conseguindo o meu objetivo, ver toda a cidade ao mesmo tempo. Quantas pessoas já estão em suas casas. Lá no interior vejo as famílias, na cama, dormindo, recuperando as energias para o dia que virá.
Vou mais além em minha viagem pelo mundo, enquanto aqui é noite, lembro que do outro lado do mundo, os japoneses já estão nas ruas, indo para o trabalho, as crianças indo para a escola. As bolsas já começam a se agitar para mais um dia de negócios, e de pregão.
Lembro-me da cobertura da virada do ano de 1999, para 2000, quando a TV Record entrou em cadeia com diversas emissoras de televisão do mundo, mostrando o novo ano que vinha surgindo. Nesse momento, desejaria, estar lá do outro lado do mundo, em uma pequena ilha no meio do Oceano Pacífico a poder contemplar o dia que nasce, e a noite que termina.
Daqui da minha pequena tela - a janela -, vejo um mundo em movimento, consigo vislumbrar e imaginar tudo o que se passa lá embaixo, não só o que acontece na minha rua, mas em todas as outras ruas que posso ver, e nas outras que não vejo. É apenas um exercício para a minha imaginação. Um passeio que nenhum morador de uma das casas vizinhas ao prédio em que moro, consegue fazer.
As nuvens continuam a se mover, ou melhor, somos nós que nos movemos, ou quem sabe, ambos nos movemos, pois enquanto a Terra gira em volta do seu eixo, as nuvens movem-se em direção norte e sul.
A Lua já está bem mais alta, e fico impressionado com um detalhe que ninguém se atreveu a explicar, porque quando vemos a Lua cheia, no horizonte ela está enorme, e quando a vemos duas ou três horas depois ela está bem menor? Curioso, será que vocês já tinham percebido esse detalhe, sobre a lua cheia?
É noite, já está tarde, daqui a pouco é hora de deitar e dormir, pois o cansaço já está chegando e amanhã será um novo dia. Um dia em que espero poder resolver tudo o que planejei. Aproveito então para dar a última olhada em tudo o que posso ver, e percebo aos poucos que os grandes escritores de novelas talvez residam em apartamentos bem altos, de onde eles podem ver e observar tudo o que acontece embaixo de seus olhos, e assim conseguirem a inspiração necessária para escrever mais um capítulo da novela que eles tem em mente. Mas por enquanto, vou apreciando essa bela noite.

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