sexta-feira, maio 19, 2006

A pedra


A pedra

Paulo de Almeida Ourives

Quando morei em Vila Velha e trabalhava no centro de Vitória, de vez em quando eu resolvia ir para o trabalho de barca. Naquele passeio de quase vinte minutos, aproveitava a viagem para curtir e apreciar as belezas naturais da Baía de Vitória. Em algumas viagens todos os passageiros ficavam maravilhados com o tamanho dos navios puxados pelos rebocadores, que entravam e saíam pela Baía com destino ao Porto de Vitória, ou indo embora mar adentro. Foi numa dessas viagens que deparei com aquela pequena pedra. Não era uma dessas pedras grandes que logo chamam a atenção, mas uma pedra pequena, de uns 70 centímetros de altura, por quase um metro de comprimento.
O que chamava a minha atenção, era como a natureza podia ser tão pródiga em colocá-la ali, ao nível do mar em cima de outra pedra quase submersa e muito menor do que ela, que estava em cima. A impressão que se tinha, era de que alguém havia colocado ela ali de propósito, mas quem? Eu não conseguia encontrar uma resposta plausível, para aquela indagação.
Fitava a imensa rocha que fazia parte do Porto de Capuaba, em Vila Velha, com uma rala vegetação em seu imenso corpo mas não via nada que pudesse me dizer de onde tinha surgido aquela pequena pedra, ou como ela havia parado ali.
Com o tempo, e as inúmeras viagens que adorava fazer, ficava cada vez mais intrigado, curioso e encantado com a possibilidade de saber que a própria natureza havia colocado ela ali, daquele jeito, para chamar a atenção de pessoas como eu, com imensa sensibilidade para se encantar com algo tão inusitado.
Somente quem tem sensibilidade, é que percebe nas pequenas coisas da natureza, a Mão de Deus. A impressão que tinha, era de que aquela pedra era mágica, pois não havia uma única oportunidade que eu passasse por ali, que não desse uma olhada e contemplasse a beleza daquele pequeno acidente da natureza.
Quem já viu os imensos Moai, na Ilha de Páscoa, sabe do que estou falando. São imensas pedras com imagens de rostos, virados para o mar. E os Moais estão em toda a parte daquela pequena ilha do Pacífico. Onde um bom número de turistas todos os anos passam por ali, para apreciar e se encantar com os Moai.
Vim embora para o Estado do Rio de Janeiro, e de vez em quando lembro-me daquela pedra, que parecia estar flutuando no mesmo local, sob as águas da Baía de Vitória. É bem verdade que na Praia da Costa, em Vila Velha, havia uma outra formação rochosa que tinha o formato de um “Sapo”, e atraía inúmeros curiosos, que aproveitavam para nadar até a ilha somente para apreciar o “Sapo”.
Mas, aquela pequena pedra parecia querer contar alguma coisa. As vezes, quando passava por ali e estava inspirado conseguia viajar no tempo e no espaço, tentando descobrir em que época da história houve algum acidente que pudesse me explicar como aquela pedra havia estacionado ali. E não conseguia encontrar as respostas que queria.
Frustrei-me de não ter tirado uma foto daquela pedra, para guardar de recordação das prazerosas viagens de barca que fiz entre Vila Velha e Vitória. Viajava no alto delas, em bancos ao ar livre, recebendo no rosto um pouco daquela maresia característica das águas da Baía de Vitória, do vento gostoso que descabelava a maioria das passageiras, do barulho do motor da barca, do apito dos rebocadores quando passavam puxando um imenso navio, dos gritos e acenos dos tripulantes das embarcações estrangeiras que passavam por nós.
Aquela pequena pedra foi importante na minha vida, pois ela me fez refletir sobre diversos fatos que aconteciam comigo naquela época, e principalmente sobre a comprovação da existência de alguém muito maior do que nós “pobres mortais”, e que construiu todas as maravilhas da natureza.

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