sexta-feira, maio 19, 2006

O escritor pianista




O escritor pianista

Paulo de Almeida Ourives

Todos nós temos vícios, afinal, quem é que não tem um vício. Tem pessoas que tem o vício do cigarro, da bebida, do fumo, das drogas, mas há também aqueles que possuem vícios comuns, pequenos, mas que não chegam a incomodar, o meu por exemplo é o de ler e escrever, principalmente o último. Adoro escrever! Fico nervoso só de ver os meus dedos imóveis e longe de um teclado. Tenho de escrever! Não consigo me imaginar, um estudante de comunicação (jornalismo), que não goste de escrever.
Quando tive o meu contato com a redação e pude expressar tudo aquilo que pensava ou, escrever sobre temas já propostos, ficava às vezes sem a mínima idéia de como começar a escrever, mas quando pegava o fio da meada, na maioria das vezes, os professores chamavam a minha atenção por escrever demais.
Sei que ainda sou um estudante de comunicação, com a pretensão de formar-me em jornalismo, e não vejo a hora de começar a ter o meu contato com a matéria que mais gosto, redação. Se pudesse, já estaria em outra sala de um período mais adiantado só para assistir as aulas sobre as técnicas de redação. Mas, como ainda tenho de esperar, vou escrevendo por aqui mesmo.
Este meu vício de escrever às vezes faz com que eu me sinta um Carlos Drummond de Andrade, ou, quando estou em pleno gozo, transbordando de inspiração e sentimentos sinto-me como um pianista, diante de um público a tocar as mais belas melodias em seu piano. Portanto, às vezes sinto que sou um Mozart das letras.
Mas porque Mozart? Talvez pelo virtuosismo de suas composições que nos embalam em melodias maravilhosas, e nos fazem sonhar.
Assim, quando estou inspirado, fecho os meus olhos pois a minha sensibilidade me diz quais são as teclas que devo bater para transformar tudo isso em texto.
Fecho os olhos e parece que vejo as pequenas gotículas de letras jorrando de meu cérebro, formando uma imensa catarata de letras e palavras sem fim. As pequenas gotículas de letras caem e a partir de um dado momento, vão tomando o seu rumo para os meus braços esquerdo e direito, passam pelo comprimento deles, carregadas pelas minhas células nervosas até chegar em minhas mãos, daí então se dissipando para cada um dos meus cinco dedos de cada mão, conforme a posição das letras no teclado.
Enquanto o pianista, tem a sua frente sete notas musicais, dispostas nas 81 teclas de um piano, colocadas em linha reta, eu, tenho a minha frente 101 ou 102 teclas para serem utilizadas e transmitir em apenas 50 teclas tudo aquilo que penso.
Mas é bem verdade que ambos, pianista e escritor passamos por um período de aprendizado até conhecermos bem a disposição dos nossos teclados. E é por isso que muitas vezes me sinto como um pianista.
Quando a inspiração e o sentimento transbordam em mim, sinto-me como se fosse um Strauss, Stravinsky, Tchaikovsky, Grieg, Bach, Verdi, Rossini, Beethoven e Mozart. Ou, como na música pop, os pianistas cegos, Ray Charles, Stevie Wonder; além de Jerry Lee Lewis, Elton John, Phill Collins ou o gigante Arthur Moreyra Lima, curvado diante de um piano.
Se meu teclado pudesse soar alguma melodia, e estivesse diante de uma platéia gostaria imensamente de dedilhar “O Guarani”, de Carlos Gomes, e certamente, todo o meu sentimento e a minha emoção iriam transbordar pelos meus poros em forma de suor, e dos meus olhos sairiam lágrimas que misturadas ao suor não seriam percebidas pelo público. Seria um gozo frenético, um êxtase de tocar uma das mais belas melodias brasileiras. E apesar de estar sentado, dançaria em minha cadeira como um Ray Charles ou Stevie Wonder.
É bem verdade que os meus dedos são normais e pequenos se comparados ao do pianista Arthur Moreyra Lima, que com seus longos braços proporcionais ao seu tamanho, parece um gigante diante de um piano de cauda. Eu portanto, também sou um gigante diante de meu pequeno teclado.
Nem sei, se o Arthur conseguiria dedilhar no meu teclado, porque eu também não sei se conseguiria digitar em seu piano.
E em meio a tanto virtuosismo, e tanta emoção terminaria como todo pianista ...
que digita todas as teclas, as as as as as as
e eu dedilho as minhas teclas as as as as as as
asdf jklç asdf jklç
e como um baterista que usa o prato
bateria com
o meu
dedo
sobre o
enter
asdf jklç
asdf jklç
...
clap! clap! clap! clap! clap! clap! clap!
Fiuuuuuuuuuuuuuiiiiiiiiii! Fiuuuuuuuuuuuuuiiiiiiiii!
Mais um! Mais um!
Parou porquê? Porque parou?
Parou porquê? Porque parou?
E a cortina
desce com o
aplauso do
público.

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